Logo no inicio do ano tava no Barra shopping e lembro de ter comentado com a minha namorada sobre aquela loucura toda… o que é que há? Um monte de gente com sacolas nas mãos, comprando tudo… tudo!! Como loucos! Se as coisas ainda estivessem baratas…

Pra quem viveu os anos 90, e tem uma boa memória,  essa extravagância é assustadora… Roubini chamaria, com toda razão, de “uma exuberância irracional”. E é o que é.

Semanas depois e se populariza essa moeda alternativa no Rio, o Surreal. Excelente nome tbm. O problema é que, de modo geral, o brasileiro paga. Um sorvete a R$15, uma caixinha de Nachos no cinema a R$20, uma melancia na praia a R$30 … ele paga! Reclama que tá caro, mas paga! Ao pagar, o recado dado ao empresario é que você aceita o preço, e ele continuará a ser praticado.

Se recusar a pagar é uma função social. Em primeiro lugar fará um bem as suas finanças pessoais. Mas mais que isso, se cada um de nós nos recusarmos a consumir bens a preços exorbitantes, os empresários mais ambiciosos terão que ajustar seus preços, a fim da sobrevivência.

O Brasil viveu mais de 20 anos sob uma hiperinflação maligna, que, ao meu ver, é raiz de muitos dos problemas que vemos no país ainda hoje. A hiperinflação piora a vida de todos. Perde-se a principal referência econômica, que é a moeda como medida de valor. Principalmente sofrem os assalariados, mas não apenas.

O combate à inflação também não é fácil. Para curar uma doença, o remédio geralmente é amargo. Este é muito. Sobem os juros, o consumo e o investimento retraem, aumenta o desemprego, a renda cai…. enfim, adivinha quem mais sofre? Os assalariados, os mais pobres novamente…

É claro que é difícil isso tudo passar na cabeça de um cidadão comum ao consumir…  mas poderia ao menos passar outras coisas.

O problema é que a gente se depara hoje com uma população em que os mais antigos ainda trazem a herança maldita da hiperinflação, de uma época em que o melhor investimento era o consumo rápido, antes que os preços disparassem. Além disso, muitos oriundos da classe D, que migraram para a C, começaram a lidar com uma renda maior agora e muito do que passaram a vida sonhando em consumir, hoje é possível. E eles vão pagar o preço que puderem. Mas o mais importante, ao meu ver, é que há muito pouca educação financeira no país, como escrevi em um outro artigo aqui.

Acho que vale a pena discutirmos essas questões. Pensarmos nisso, cada um de nós. A bola está com a gente. Está caro, não compre. Porque comprar e depois reclamar que está caro não adianta. Não é só pelos R$0,20… é pelo emprego e renda de milhares de famílias brasileiras.

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