O quão rico você é? Você saberia dizer ao certo na ponta da língua? Não to falando de saúde, de amigos, de amor ou felicidade… certamente isso tudo é mto, mas mto mais importante do que o acúmulo de bens materiais. Mas dessa vez não é o caso. Falo mesmo de rico literalmente, de dinheiro. Você sabe?
No Brasil, durante anos tem se usado o conceito de renda corrente. Ou seja, você é rico ou pobre dependendo da sua renda mensal. É fácil, como no exemplo da tabela abaixo:
Basta saber sua renda familiar e consultar a tabela. Ela indica se você é rico (classes A e B), classe média (classe C) ou pobre (classes D e E).
Esse conceito parece estar entranhado na cultura brasileira, eu acho. Mas não me agrada em nada.
Vejamos o exemplo de 2 amigos, Carlos e William, ambos com 30 anos de idade, moradores do mesmo bairro, amigos de infância e estudaram na mesma escola… Carlos ganha atualmente R$8 mil por mês. William ganha R$5 mil. Quem é mais rico? Bom, pelo IBGE, parece ser o Carlos. Mas vamos a um pouco mais de detalhes sobre os dois.
Carlos é do perfil esbanjador, gasta todo o seu salário sem nem saber com o que. Não que seja dos mais extravagantes, mas não possui controle nenhum, a não ser na sua cabeça.
Conseguiu o bom emprego em uma empresa pequena há menos de um ano. Antes, passou mais tempo estudando e viajando o mundo. Trocou de emprego diversas vezes e ficou um bom tempo sem trabalhar. No total da sua carteira de trabalho soma-se quatro anos de trabalho. Hoje, possui um Palio novo avaliado em R$30.000 mas parcelado em 60 meses.
Já William, trabalha sem parar desde os 18 anos. Poupando mensalmente 1/3 de tudo o que ganha, conseguiu dar entrada em um apartamento próprio na planta ao qual paga mensalmente. Possui também um carro, um Sandero novo avaliado em R$30.000 que comprou dando 50% de entrada e o restante parcelado em 24 meses.
William e Carlos tem estilos de vida bem parecidos, mas William é mais controlado. Não que tenha um padrão de vida diferente mas tem maior inteligência financeira. Opta por produtos mais baratos e não gasta muito dinheiro com coisas que não lhe tragam prazer.
Pergunta: Como pode Carlos ser considerado mais rico que William só porque seu salário é maior? O salário do Carlos é maior mas esse é o retrato de hoje. Ele acabou de começar a ganhar esse salário de R$8 mil. William vem construindo sua vida financeira há anos…
Não quero entrar no mérito aqui de quem é mais feliz ou aproveita melhor a vida. Acho totalmente relevante esta discussão, mas como disse, não nesse momento.
Sobre o método de renda corrente, para elucidar como ele é ruim, posso dizer que um executivo que ganhe mensalmente R$50 mil, quando é demitido, passa a figurar em classe mais baixa do que o analista junior que ganha R$2,5 mil mensais. Mesmo sabendo que em 3 meses ele será contratado por uma nova firma.
NÃO É O QUANTO VOCÊ GANHA POR MÊS QUE DEFINE O QUÃO RICO VOCÊ É
Para medir a riqueza de alguém temos que olhar para o seu patrimônio, o que essa pessoa está construindo. Não adianta você ganhar muito e não ter nada porque não construiu nada.
Slim e Gates (que aliás emprestaram seus primeiros nomes para os meus personagens de hoje) não são os caras mais ricos do mundo porque recebem os maiores salários. Não é assim que a Forbes mede a riqueza. Nem lucro, como foi o caso do Eike quando figurava entre os 10 primeiros mesmo sem ter uma empresa sequer dando lucro relevante. Esses caras estão na Forbes por conta do patrimônio deles. Eles tem empresas que valem bilhões. E você, o que você tem?
Como sempre digo que só se gerencia o que se mede, te convido a acompanhar o aumento do seu patrimônio líquido. Não falo de contabilidade avançada não, mas algo simples, beeem simplificado e que seja útil. Uma conta simples: ativo – passivo = patrimônio líquido. Ativo são os direitos que você possui. Passivo são suas obrigações. Uma casa é um ativo. O financiamento dela, um passivo. Grosso modo, o seu patrimônio é tudo o que você tem menos tudo o que você deve.
Acima estão as simulações dos balanços do Carlos e do William. É uma boa ideia para fazer o seu próprio. Os valores de saldo em poupança, títulos, fundos e ações é fácil ver, basta um extrato. Mas quanto vale o seu carro e seu apartamento? Uma boa ideia para o preço do carro é ver o quanto que ele está avaliado na tabela FIPE. No Zap Imóveis você pode ver o quanto está cotado o m² do bairro onde fica o seu imóvel e atualizar pelo seu valor de mercado.
No caso das dívidas, o ideal é que, existindo a possibilidade de quitá-las hoje (caso você tivesse grana pra isso), você as traga a valor presente, seguindo o post sobre juros compostos aqui. Neste post tem até um simulador em excel para ajudar.
No caso do financiamento do Palio do Carlos, note que o valor da dívida é maior do que o valor do carro. Considerei que o financiamento era via leasing em que o desconto ao quitar a dívida antecipadamente é mínimo.
Ainda queria comentar outro aspecto que acho importante na hora de analisar seu patrimônio: o seu nível de gasto mensal. No caso do William, um patrimônio de R$75 mil pode ser muito bom, já que ele gasta menos de R$5 mil por mês. Mas o mesmo patrimônio pode ser muito pouco para quem gasta R$50 mil por mês.
Por isso, acho importante calcular o Índice de Cobertura Patrimonial que consiste em expressar o seu patrimônio em relação ao seu nível de gastos. A parte matemática é PL/GM, onde PL é seu patrimônio e GM, seus gastos médios mensais. Quanto maior o índice, mais vale o seu patrimônio. Mostra quantos meses você conseguiria viver no padrão de vida atual com o seu patrimônio. O William tem cobertura patrimonial de 22 meses, o cara que gasta R$50 mil/mês, com o mesmo patrimônio, teria cobertura de 1,5 mês.
Bem, não quero me alongar ainda mais do que já me alonguei, então vou nessa…
Até a próxima!!
Bons investimentosss!!!
PS1.: William e Carlos não são personagens baseados em ninguém que eu conheça. Na verdade, embora todos os valores tenham sido totalmente chutados aleatoriamente, os comportamentos de ambos foram inspirados em mim mesmo, em diferentes fases da minha vida.
PS2: No Balanço do Carlos, o total de passivo saiu como “total ativo”. Peço desconsiderarem.