Em 16 de Março de 1990, a então ministra da Fazenda Zélia Cardoso, ao lado do presidente do BACEN, Ibrahim Eris, anunciava o congelamento da Poupança dos brasileiros. Usando palavras da Istoé sobre o plano “um descaso ao sentimento de milhões de brasileiros, que, do dia para a noite, ficaram sem dinheiro até para tratar de doenças, mesmo que suas economias estivessem em uma aplicação financeira intocável e garantida por lei, como a caderneta.”
Todos se lembram disso. Mesmo quem não era nascido ou era bem pequeno, tem conhecimento deste dia. Miriam Leitão narrou com detalhes em seu livro “A Saga Brasileira” casos de famílias que perderam tudo da noite pro dia, de suicídios, planos de festas e casamentos cancelados por conta do congelamento.
Ainda assim, em 2014, o brasileiro acredita que seu dinheiro estará 100% seguro na Poupança. Como diriam os americanos Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.
Não há investimentos sem risco. Nenhum. Os títulos do tesouro americano, considerados os mais seguros do planeta, quase aprontaram defaults (calote) nos últimos anos. Títulos argentinos, não faz nem tanto tempo assim, deram default. Mas no passado, brasileiros, mexicanos e outros também deram.
Muitos brasileiros que compraram imóveis na planta nos anos 80 viram a construtora falir e ficaram na mão. Compradores de imóveis prontos, como o Palace II no Rio, viram o prédio desabar. Bairros que outrora eram nobres foram invadidos pelo crime e pelas favelas. Outros casos como nos EUA recente, nada disso aconteceu, mas uma Bolha estourou e o valor de seus imóveis se reduziu drasticamente.
Russos e Cubanos que tinham propriedade privada, perderam tudo com as revoluções socialistas e comunistas. Ações tem risco, todos sabem… mas caderneta de poupança e investimento em imóveis, considerados seguros pela classe média brasileira, também têm e isto não deve ser ignorado.
Não estou dizendo que nenhum investimento presta. Muito pelo contrário. Na verdade, de todos os riscos que podemos mensurar, o maior deles é o de não investir. Isso sim é o mais arriscado. Mas devemos conhecer os riscos que corremos. Estar ciente deles e nos preparamos para enfrenta-los. Existem tipos de riscos distintos com níveis maiores ou menores.
Abaixo alguns destes riscos que encontramos no mercado financeiro:
Risco de mercado: um dos mais conhecidos. Quando dizemos “ação é muito arriscada” estamos nos referindo principalmente a este tipo de risco. O risco é de o mercado passar por uma tempestade pessimista e o valor do seu ativo cair bastante. Alguns ativos tem riscos maiores ou menores do que o apresentado pelo mercado como um todo. Mede-se este risco com a volatilidade nos preços de mercado. Ações costumam ter uma volatilidade grande, imóveis, títulos pré-fixados e de prazo longo, volatilidade média. A poupança, neste caso, tem baixo risco.
Risco de crédito: você tem dinheiro aplicado num banco e ele fale. Este é o risco de crédito. Não tem a ver com a volatilidade em si, mas com a ruptura de uma promessa. Neste caso, aplicações em bancos menores tendem a apresentar riscos maiores.
Risco de liquidez: imagina que você tenha um patrimônio de R$1 milhão. Muito bem, mas na hora em que você precisa do dinheiro, não consegue porque seu único bem é o imóvel… ele até vale R$1 milhão, o problema é que você não sabe quando poderá receber esse dinheiro. Existem ações com liquidez baixa, fundos imobiliários de baixa liquidez…
Para tentar resumir com um exemplo para o mundo dos imóveis. O risco de mercado é o risco do valor do imóvel ou do aluguel se reduzirem drasticamente (como no estouro de uma bolha por exemplo). O risco de crédito é o do inquilino não lhe pagar o aluguel (ou do comprador não te pagar o que deve). O risco de liquidez é você não conseguir vender ou alugá-lo.
Todo investimento tem risco. Maior ou menor. De crédito, mercado ou liquidez. Saber disso é dar um passo a frente. Tentar mensurá-los são 2 passos a frente. Por isso a importância do calculo do valor esperado. Em finanças, a qualidade do produto financeiro é dada pela sua relação risco-retorno. Entender risco é primordial.
Espero ter ajudado… e não ter assustado ninguém com os exemplos de risco!
Lembre-se, estamos todos envelhecendo, quer queira, quer não, o relógio está correndo… e repito, o risco maior é de que a hora chegue e você não esteja preparado para ela.
A todos, um grande abraço!