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An incentive is a bullet, a key: an often tiny object with astonishing power to change a situation” (Steven Levitt)

Parece que foi-se o tempo em que a economia era definida apenas como a ciência da escassez. Hoje, entre redefinições, novos interesses e cenários, a economia incorporou muito do que pode-se chamar de a ciência dos incentivos.

O que faz um agente econômico tomar uma decisão passou a ser tema central. Como criar incentivos para que os agentes tomem decisões que gerem ganho não apenas para ele mas para toda a sociedade?

Você pode já ter ouvido falar sobre Risco Moral ou mesmo sua expressão em inglês muitas vezes usada, Moral Hazard. De modo geral, é o incentivo que uma das partes tem em agir de forma arriscada tendo em vista de que não será ela que incorrerá nas perdas caso o resultado dê errado.

Um exemplo clássico de Risco Moral é o das seguradoras. Imagine que uma seguradora possa ter toda informação sobre seu comportamento ao volante¹. Você nunca teve seguro, mas também nunca bebeu e dirigiu, não costuma estacionar o carro na rua ou andar por lugares perigosos, evita ao máximo colocar seu carro em estradas em condições inapropriadas etc.

De posse de todas essas informações, a seguradora calcula  – através do Valor Esperado – o risco de perda com o seguro e, com base nisso, lhe cobra um preço justo. O problema é que, agora que seu carro está segurado, você tem poucos incentivos para continuar se comportando como antes. Como o carro está segurado, você passa a se importar menos em estacioná-lo na rua por exemplo. Você pode pensar “ahh, ele tem seguro mesmo”.

Todo o calculo da seguradora levou em conta o seu histórico antes de fazer o seguro, mas agora seu comportamento mudou, justamente por tê-lo contratado. Este é um bom exemplo de Risco Moral.

Para evitar esse tipo de situação, as seguradoras passaram a cobrar franquias, para que os clientes tenham menos incentivos em ligar menos para seus carros.

O mesmo existe também para Planos de Saúde em que os usuários acabam fazendo consultas que jamais fariam caso não tivessem incluídas no Plano. Cada vez mais comum, há Planos com a co-participação do cliente, que incentivam os cliente a realizarem apenas as consultas em que realmente precisam, as que estão dispostas a pagar um pouco a mais por elas.

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A Crise de 2008

Apesar da discussão sobre Risco Moral ser crescente desde os anos 60, foi a Crise de 2008 que a levou ao centro do debate econômico.

Um banco é capaz de gerar moeda através de depósitos e crédito. Quando um banco fali, ele leva para o buraco todos que dependiam financeiramente dele. Se o banco for grande então, ele pode arrastar com ele todo o sistema financeiro de um país ou de vários países. Daí, a expressão “Grande demais para falir” (ou “para quebrar”).

Para salvar o país e toda a sociedade, o melhor que um Governo pode fazer é salvar o próprio banco e não deixá-lo falir. Isto não é só o melhor para ele, mas para todos. Aqui no Brasil, nos anos 90, houve o PROER, nos EUA pós-2008 tb houve programa de ajuda aos bancos e em vários outros casos no mundo. No fundo, não se salva o banco, salva-se o país.

O problema é que, os banqueiros sabendo que se suas apostas derem errado eles serão resgatados, têm um incentivo a correr riscos maiores do que deveriam. Ora, quanto maior o risco, maior o retorno. Como acreditam que são grandes demais para quebrar, ele arriscam, gerando muitas vezes perdas estrondosas para os Governos.

Outro problema tem a ver com os bônus dos executivos do mercado financeiro. Todos sabemos que bancos costumam pagar bônus gordos, que acabam também por criar situações de Risco Moral.

O executivo tem um limite para perda mas não para ganho. Se o banco lucrar muito em uma operação arriscada, ele levará para casa uma bolada em dinheiro. Se o banco incorrer em um pequeno prejuízo, ele poderá ser demitido, da mesma forma em que seria se o prejuízo fosse alto.

Então, entre prejuízo alto e baixo, para ele tanto faz, o “prêmio” é o mesmo. Logo, ele tem incentivos para correr maiores riscos em busca de maiores retornos e é indiferente quanto ao nível do prejuízo.

Além disso, durante os anos 2000, ficou popular nos EUA, algo conhecido como Securitização. Funciona da seguinte forma, os bancos vendiam financiamentos imobiliários para os clientes. Estes financiamentos, ao invés de ficar com os bancos, se transformavam em produtos financeiros oferecidos ao público em geral (como CMOs, MBS, ABSs etc).

Como o risco do financiamento não mais ficava com os bancos, eles tinham o incentivo para emprestar para pessoas que não tinham necessariamente condições de pagar pelo empréstimo. Esses títulos ficaram conhecidos como subprimes.

Nas empresas

Dizem que o boi só engorda aos olhos do dono. Isto porque é ele que recebe os lucros caso a empresa dê bons resultados. Como os funcionários em geral são remunerados por salários fixos mensais, estes tem pouco comprometimento moral com os resultados da empresa.

No últimos anos, com isso em vista, muitas empresas tem passado a pagar bônus e participação nos lucros aos seus colaboradores de modo a incentivá-los também a perseguirem os bons resultados.

Executivos remunerados por bônus anuais, no entanto, podem ter o incentivo de gerir uma empresa focada nos resultados do curto prazo, em detrimento do interesse de acionistas pela boa performance da empresa no longo prazo. Bônus levam em consideração resultados imediatos e os malefícios podem só aparecer quando o executivo não mais estiver na empresa.

Por isso, de forma cada vez mais recorrente, executivos têm sido remunerados com Opções de Compra sobre Ações com um período de lock-out. Ou seja, suas opções só poderão ser exercidas num prazo mais longo.

Há oportunidades para Risco Moral sempre que há um contrato, uma relação em que uma das partes poderá ter um ganho sem que haja um risco simétrico a ser corrido por ele próprio. Trata-se da grande questão econômica dos últimos tempos.

Um abraço a todos!

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¹ desconsiderando, neste momento, o problema de Informação Assimétrica.

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