No dia seguinte a reeleição de Dilma o Ibovespa fechou com queda de quase 3% e o dólar a R$2,52, o maior nível desde 2008 (ano da crise). Embora muitos projetassem um cenário ainda pior, o resultado mostra o quanto o mercado avalia de forma negativa o Governo Dilma.
Isto foi uma constante na disputa eleitoral. Sempre que havia um rumor de que Dilma estaria na frente nas pesquisas, dólar subia e bolsa despencava. A incerteza, historicamente uma inimiga do mercado, se tornou esperança.
Mas onde Dilma errou tanto com o mercado nestes 4 anos de governo?
Credibilidade
A quebra da confiança foi o maior pecado do governo. O maior que um Governo a qualquer tempo pode cometer.
Foram difíceis os anos 90, em que Gustavo Franco trabalhou para recuperar a imagem do Brasil depois da moratória nos anos 80. Leva tempo para construir uma relação de confiança e muito pouco tempo para destruí-la.
Em 2002, quando Lula estava prestes a assumir a presidência, houve pânico no mercado acreditando que a credibilidade estaria em risco. Mas Lula teve o mérito de reconquistar o mercado e mostrar que a credibilidade do país não dependeria do partido político que estivesse no poder. Era uma conquista do Brasil que ninguém iria tirar!
Até que veio a Dilma e sua equipe econômica… A contabilidade criativa do Augustin gerou um constrangimento imenso, um tiro no processo de transparência que o Brasil vinha construindo a trancos e barrancos…
Mas talvez a pior ou que tenha gerado maior insegurança, na minha opinião, foi a MP 579 que alterou na marra as clausulas contratuais das empresas do setor elétrico. A medida acabou criando um efeito de desconfiança em todos os setores… “e se o meu setor for o próximo?” Quando há este nível de insegurança, o empresário não investe.
Mesmo o pequeno investidor que via nas ações de empresas elétricas uma opção segura para investir para sua aposentadoria teve que lidar com esta virada de mesa ideológica. E como cão mordido por cobra tem medo de linguiça, o efeito de desconfiança se alastrou… realmente investir em ações no Governo Dilma se tornou muito arriscado ao passo que investir fora do Brasil se tornou uma opção mais atrativa do que nunca.
Já que a mensagem era de que as regras poderiam mudar mesmo com o jogo correndo, o governo acabou se envolvendo em uma confusão em torno da distribuição dos royalties do pré sal. Ora, a ideia do governo não era rediscutir as regras com o novo marco regulatório do setor? Então os Estados acharam legítimo que as novas regras pudessem beneficiar a eles também, independente de terem ou não petróleo em seus territórios. Resultado de uma falta de credibilidade e respeito às regras vigentes, gerando e espalhando a incerteza.
Agora, seria leviano da minha parte desconfiar do IPCA de Dezembro de 2011, primeiro ano de Dilma, que fechou em 0,5% – resultando num índice acumulado de exatos 6,50% naquele ano? Cravado exatamente no teto da meta do governo? Nem um décimo a mais e nem um a menos? Bem, provavelmente é um exagero da minha parte desconfiar até disto, mas com o que se passou depois, sei lá…
Autonomia
“Dilma é quem toma as decisões em seu governo”. Claro, ela é a presidente da república. O problema é que o processo de excessiva centralização das decisões no seu governo traz desconfianças sobre o rumo das políticas.
A The Economist chegou a pedir a cabeça de Mantega. Ué, mas ele era o Ministro da Fazenda de Lula em 2009 quando a revista ilustrou em sua capa o Cristo Redentor em foguete com o título “Brazil takes off”, tecendo elogios a economia do país. O que mudou? Será que era o Mantega ou a Dilma tomando os rumos da economia agora?
Essa foi a desconfiança do mercado em relação ao Tombini no Banco Central… demorou para subir os juros. O Banco Central no Brasil é autônomo? A tirar pela campanha eleitoral do PT em que acusou Marina Silva, que defendia a independência do Banco Central, de trazer fome às famílias brasileiras… é natural desconfiar desta autonomia no governo Dilma.
As decisões das estatais nos primeiros 4 anos serviram apenas a atender os interesses do Governo e não aos seus próprios. Para ajudar o IPCA a ficar dentro da meta, a Petrobras subsidiou o combustível durante um longo tempo. A Eletrobras caiu no que citei acima em relação a política energética. Os bancos públicos serviram como instrumento para aumentar o crédito, parte do projeto de alavancar o consumo das famílias no país.
Enfim, as empresas não mais eram vistas como defensoras dos interesses diretos dos acionistas (em que o maior é o Governo) mas como parte de uma arrumação indireta, cumprindo um papel dentro do arranjo estrutural que o Governo acredita ser o ideal, mesmo que para isso tenha que sacrificar margens afetando caixa e lucro.
Políticas Desenvolvimentistas
Ao optar por uma abordagem desenvolvimentista, com maior presença do Estado na economia, Dilma optou por um modelo semelhante ao dos anos 70/80 no Brasil. O resultado foi um protótipo de estagflação, versão bem sutil mas que lembra o daquelas décadas. O Governo passou então a decidir quais seriam os campeões da economia abalando a lei máxima do livre mercado. Primeiro, decidiu insistir na redução dos IPIs dos automóveis, que tinha dado certo no combate à crise de 2008 no Governo Lula. Mas de novo?
E então vieram os eletrodomésticos… concedeu benefício às indústrias que julgava importante em detrimento das demais. O BNDES jorrou liquidez. Política anticíclica diria o Governo, remédio para combater crises. Mas quanto tempo durará esta crise? Remédio em excesso pode matar o paciente, é sempre bom lembrar.
A gasolina subsidiada atrapalhou o etanol, tão defendido durante o Governo Lula. A redução na conta de energia elétrica deu o recado aos consumidores de que poderiam gastar mais, justamente no período em que (por acaso, justiça seja feita) não choveu e as termelétricas tiveram que ser acionadas.
Os bancos receberam o recado de que “seus cavalos morreriam de sede” caso se recusassem a baixar os juros. Enfim, os erros de cálculos são naturais do processo – seja ele público ou privado. O problema é que quando o Estado é grande assim, seus contribuintes são obrigados a participar desse jogo empresarial, da qual não necessariamente eles gostariam de fazer parte.
Enfim, apesar da visão crítica em relação a forma do governo em lidar com o mercado, quando analisamos os impactos sociais do Governo Dilma temos realmente que reconhecer suas benesses. Embora o país não cresça, o desemprego se mantêm a um nível baixíssimo. Até quando, não sei… mas admito que achei que ele já fosse subir há muito tempo atrás e não subiu.
Dizer que a bolsa cai quando Dilma sobe nas pesquisas não é argumento anti governo, é apenas a constatação de um fato.
Houve também mudanças estruturais positivas como por exemplo a mudança da regra do rendimento da Poupança, um tópico tão sensível para os brasileiros, dado que é o produto financeiro mais popular e que o país sofreu um trauma durante o Governo Collor. Essa alteração pode parecer simples mas significa que agora o caminho está aberto para quedas na taxa de juros no longo prazo que possibilitarão uma taxa mais compatível com as do resto do mundo.
Você pode ser contra ou a favor do Governo Dilma, mas é inegável que independente de qual lado esteja, temos que reconhecer que qualquer governo terá erros e acertos. Dilma foi mais feliz na área social do que com o mercado. Quem votou contra e quem votou a favor têm seus argumentos legítimos.
Em geral quem votou no PT argumenta que o país não estava no caos apregoado pela oposição, que a qualidade de vida da população, sobretudo dos mais pobres, havia avançado. Verdade.
Os que votaram contra Dilma contra argumentavam dizendo que apesar de a fotografia estar bonita, o filme mostraria que estamos rumando ao precipício já que era devido a políticas de curto prazo com data de validade. Também é verdade.
Não posso dizer quem estava certo, mas ambos tem argumentos legítimos. O resto é blá blá blá eleitoral, exageros apocalípticos de ambos os lados.
A verdade é que há espaço para melhorar. A Bolsa recuperou parte das suas perdas. Em seu discurso de posse, a presidente falou em mudança, em juntar o país numa postura muito mais conciliadora do que a que apresentou no primeiro mandato. Disse que a palavra de ordem será “diálogo”.
Essa postura “Dilminha Paz e Amor”, se confirmada, será bem recebida pelo mercado. Foi assim que Lula conseguiu conquistar a confiança do mercado e que fez um operário socialista se transformar no chefe de Estado do país cuja Bolsa de Valores bateu inúmeros recordes positivos entre 2003 e 2010.
A esta altura, enquanto escrevo, não sei ainda quem será o novo Ministro da Fazenda, pode ser que o leitor já saiba. Um bom recado para o mercado não seria nada mal…
Apesar das diferenças, desejo mto sucesso à Dilma e sua equipe neste 2º mandato! O seu sucesso será o nosso!
A todos um grande abraço!