Em Sun Valley, Iowa, 1999, num encontro anual promovido por Allen & Co., estavam os principais amigos de Herbert Allen para debater aspectos importantes do mercado financeiro internacional. De estrelas de Hollywood como Tom Hanks a gênios da tecnologia como Bill Gates, Michael Dell, Steve Jobs e Andy Grove.
Naquele ano, os novos magnatas da internet exibiam suas expectativas elevadas, alardeando suas ultimas fusões tentando arrancar dinheiro dos gestores que estavam na plateia. Estes últimos controlavam tanta riqueza de aposentadorias e recursos de terceiros que praticamente fugia a compreensão humana: mais de 1 trilhão de dólares.
Naquela semana uma série de TV mostrava com estardalhaço discursos sobre como a internet remodelaria o setor de telecomunicações. Jay Walker da Priceline fez uma apresentação estonteante sobre a internet., que comparava a supervia da informação ao advento da estrada de ferro em 1869.
Executivos expuseram as possibilidades fabulosas que se abriam para as empresas, enchendo auditório com a imaginação de um futuro sem as limitações de espaço, armazenamento e geografia. Era brilhante e visionário.
Algumas ações de empresas pontocom eram negociadas a valores infinitamente maiores do que suas inexistentes receitas., ao passo que companhias de verdade, que faziam “coisas de verdade” estavam se desvalorizando. As empresas de tecnologia engoliam a velha economia. O Dow Jones dobrou de valor em 3 anos e meio.
Warren Buffet faria a palestra de encerramento daquele ano. Buffet era o simbolo da velha economia. Ele representava o passado, o conservador. No meio de tantos novos gênios… ele se mantia de fora do mercado da internet.
Ele tinha passado semanas se preparando para aquela palestra. Entendia que o mercado não se limitava a pessoas negociando ações como se fossem fichas num cassino. Eram empresas.
Buffet meio sem jeito com o projetor, apresentava sua apresentação Powerpoint. “No decorrer dos últimos 17 anos a economia americana quintuplicou. As vendas das empresas listadas mais do que quintuplicaram. Porém, nestes 17 anos, o mercado de ações continuou no mesmo lugar…
Esta é uma lista de 70 páginas com as maiores empresas automobilísticas dos EUA. Existiam mais de 2 mil empresas deste tipo: o automóvel foi provavelmente a invenção mais importante da primeira metade do século XX. Teve um impacto imenso na vida das pessoas. Se, na época dos primeiros carros, vocês soubessem como o desenvolvimento do país estaria atrelado a eles, teriam dito: ‘Preciso entrar nessa’. Porém, daquelas 2 mil empresas originais, segundo dados do ano passado, apenas 3 sobreviveram. E, todas as 3 estiveram a venda por menos que seu valor contábil, ou seja, menos do que foi aplicado nelas. De modo que o automóvel teve um impacto impressionante na vida dos americanos. Mas não foi tão positivo para seus investidores.
Outra grande invenção da época foi o primeiro avião. Entre 1919 e 1939 havia cerca de 200 companhias de aviação. Imagina se você tivesse sido visionário bastante para imaginar um mundo sem precedentes. De acordo com dados de poucos anos atrás, o conjunto de todas as ações investidas na história da aviação rendeu zero dólares.
É maravilhoso promover novas indústrias, pois elas são muito fáceis de se promover. Já promover investimentos em produtos comuns é muito difícil. É muito mais fácil promover produtos exóticos, mesmo que de prejuízos, pois não há um parâmetro quantitativo.” Isso era um golpe direto na plateia, bem onde mais doía. ‘Mas as pessoas vão continuar investindo mesmo assim. Isso me faz lembrar da história do petroleiro que chega no céu. Daí São Pedro diz: ‘Você não vai poder ficar aqui. Mantemos os petroleiros todos naquele cercado e como você pode ver, ele está cheio, sem espaço para você.’ Então o petroleiro grita: ‘Descobriram petróleo no inferno.’ Obviamente a tranca arrebenta e todos os petroleiros correm para o inferno em busca do petróleo. ‘Ótimo truque’ diz São Pedro, ‘Agora você tem todo o cercado para você. E o petroleiro então responde ‘ Eu não. Acho que vou descer com o resto do pessoal. Vai que o boato tem um fundo de verdade’. É assim que as pessoas se comportam com ações. É muito fácil acreditar que um boato tenha um fundo de verdade.”
Não era exatamente aquilo que espera ouvir a maior parte dos presentes a palestra de encerramento. Era um discurso polêmico. Buffet estava acabado. Era respeitado, mas seu tempo havia passado. Era a hora dos grandes titãs da tecnologia.
No auge da especulação, o índice da bolsa eletrônica de Nova York, a Nasdaq, chegou a alcançar mais de 5000 pontos, despencando pouco tempo depois. Ao longo de 2000, ela se esvaziou rapidamente, e, já no início de 2001, muitas empresas “ponto com” já estavam em processo de venda, fusão, redução ou simplesmente quebraram e desapareceram.
A crise das pontocom foi o embrião que viria a criar uma bolha ainda maior, a de 2008.
Tentar acertar o futuro é a meta de muitos investidores. Muitos pretendem ser os novos “visionários” para se tornarem milionários.
Para ter sucesso financeiro é necessário muito menos do que acertar os números da Mega Sena. As chances são maiores seguindo uma receita antiga básica.
Começa por gastar menos do que ganha e fazer bons investimentos. Mas o que é um bom investimento? Para inicio de conversa, vc deve ser capaz de entender e explicar porque ele é bom. Ser o “futuro” não necessariamente significa uma indústria rentável.
As empresas aéreas, de telecomunicações etc… todas já foram o “futuro”. De fato acertaram, o futuro chegou. Vivemos na era das telecomunicações e da popularização dos voos comerciais. Mas ainda assim, empresas petrolíferas, tão arcaicas se comparadas às 2 citadas, e baseadas em extração de combustível fóssil, estão entre as mais lucrativas do mundo ao passo que empresas aéreas e de telecom não vivem o melhor momento.
Enfim, o caminho para o sucesso pode ser mais simples e bem sinalizado do que se imagina. É claro que existem atalhos… o problema é que muitas vezes tentar descobrir onde eles estão pode te desviar do caminho e te deixar perdido.
Sempre em frente!!
A todos um grande abraço!!