Enquanto uns choram, outros vendem lenços. O caminho que vc escolhe e a persistência em trilhá-lo, no final, é o que define o destino onde vai chegar.
Pois bem, vivendo no Brasil, convivemos com as taxas de juros reais (juros descontados da inflação) mais altas do mundo!
Isto pode ser ruim ou bom dependendo da forma que encare as coisas. Se for com inteligência, astúcia, vai se tocar que o Brasil é um dos piores países do mundo para se endividar mas o melhor para poupar! Ao menos hoje.
Acontece que, em termos nominais, a caderneta de poupança, que todo mundo tem e reclama que rende pouco, em um mês rende o equivalente aos títulos norte americanos em um ano inteiro! E se sairmos da poupança para outros instrumentos de renda fixa como LCI, LCA, CDB, títulos do Governo a comparação se torna covarde.
Que droga que os juros no Brasil são tão altos… para os endividados. Para os poupadores, o Brasil é o paraíso. É relativamente fácil ser rico no Brasil e viver de renda.
Para isto, é preciso poupar. Receber juros ao invés de pagar por eles.Curiosamente isso nem todo mundo quer… talvez por ignorância ou por serem mais guiadas por impulsos emocionais do que pela razão.
Ao criticarem os bancos e os juros altos que cobram, defendem um cenário em que quem poupa é prejudicado para premiar os que gastam um dinheiro que não tem.
Aliás, acho muito curiosa essa raiva que o povo tem dos bancos. Me lembra um amigo meu que quando éramos novos me pedia dinheiro emprestado. Eu emprestava mas quando ele me pagava, ficava com raiva de mim, por eu estar levando o dinheiro “dele”. E eu nem cobrava juros!
Quer dizer, na minha cabeça era um favor. Já na dele…
Enfim, o banco empresta dinheiro para pessoas que não estão satisfeitas em viver no padrão de vida que podem. Pessoas que querem mais… (verdade seja dita em muitos casos por conta de emergências e inesperados também). Mas em todos os casos, ninguém é obrigado a pegar empréstimo. Pega porque quer ou precisa, ciente dos juros compactuados. Não são vítimas.
Passar de devedor para poupador é uma questão temporal apenas. Se vc recebe R$3 mil por mês irá ter que se adequar a este patamar mais cedo ou mais tarde.
Os endividados poderão gastar até R$2,5 mil por mês porque R$500 terão que pagar de juros apenas. Os poupadores viverão com 3,2 mil, sendo R$ 200 de juros ganhos. Isso é só um exemplo, claro. Mas que mostra que se vc tiver paciência, se no presente segurar… no futuro poderá gastar mais… então ganhar pouco não é justificativa…
Se esperar juntar para comprar as coisas que vc realmente pode ter, viver num padrão de vida condizente com a renda, poderá poupar e no futuro ter maior renda disponível. Como disse, é uma questão temporal. Poupando vc pode ter as mesmas coisas que se endividando, a questão é quando e, por adiar um pouco o consumo vc recebe um prêmio. E no Brasil esse prêmio é muito alto.
Agora, é verdade que existem dívidas boas no Brasil também. Por exemplo, leve como parâmetro a SELIC, hoje a 12,75% ao ano (março de 2015). Abaixo da Selic, o empréstimo é barato. Acima é caro.
Por exemplo, empréstimos imobiliários, principalmente para imóveis mais baratos, pelo SFH, costumam ser abaixo da Selic, ou seja bons. O FIES é o empréstimo mais barato que conheço no Brasil, cobra juros reais negativos (juros abaixo da inflação).
Ainda tem exemplos de casos específicos. Empréstimos para abrir um negócio é bom sempre que a projeção de retorno do negócio em si for maior que a do retorno do capital aplicado numa renda fixa por exemplo (podemos considerar a Selic aqui no Brasil).
Conheço um cara que trabalha na área comercial que precisa trabalhar de carro e ainda acredita que um bom carro é um investimento para os negócios dele. E pode ser verdade! Na área comercial a aparência é importante. Se ele não tiver o dinheiro, vale a pena se endividar porque de certa maneira trata-se de investimento.
Tem outro caso também, dívida sem juros não é ruim se você tiver o dinheiro para pagar a vista.
Por exemplo, digamos que você queira comprar uma TV de R$2 mil. Vale mais a pena você parcelar em 10 vezes sem juros do que pagar a vista. Como os juros no Brasil são altos, o custo de oportunidade também é alto. Se você optar por parcelar, pode deixar o seu dinheiro aplicado rendendo juros enquanto paga parcelas sem juros. Já mencionei isso aqui antes, mas vale a pena repetir.
É claro que essa recomendação é válida apenas se você tiver o dinheiro para pagar a vista.
Muita gente tem preconceito contra dívidas – exatamente porque os juros são altos e, como se diz, cão mordido por cobra tem medo de linguiça… as pessoas (algumas) acabam ficando com medo de qualquer dívida, mesmo que ela não tenha juros algum (ou juros baixos).
Ou seja, no todo, o empréstimo não precisa ser ruim. Ele pode ser um recurso a ser usado apenas num caso mais extremo, de urgência, em que seja necessário mais do que a reserva de segurança que vc possua. Ele também pode ser usado para dar vida a bons investimentos. O empréstimo ruim é aquele usado para consumo, para te fornecer um padrão de vida que não se adequa às suas possibilidades… carros, eletrônicos, cheque especial, cartão de crédito não pago no vencimento… no way, Jose!
O problema é que a maior parte dos brasileiros é ansiosa, deixa o dinheiro parado na poupança por 3 meses, vê um efeito pequeno e desiste de poupar… acha os juros dos empréstimos algo que de para arcar, e paga. Brasileiro gosta de financiamento, de dívida… se tiver um espaço no orçamento, preenche com alguma prestação de alguma coisa… é o legítimo “pagador de contas”. Prefere entrar num financiamento e pagar os juros mensais, a separar o mesmo montante numa conta poupança ou num CDB e receber juros por isso. É a mesma coisa, o mesmo montante, o mesmo efeito…. a única diferença é temporal. Mas enfim…
Por outro lado, vale dizer, vivemos um período (longo até) de altas taxas de remuneração no Brasil. Quem tem dinheiro, gera dinheiro com facilidade. É possível sonhar com uma aposentadoria precoce, viver de renda de produtos financeiros com retorno alto e risco baixo. Até quando será possível isso, não sei… acredito que não será pra sempre, opinião minha.
Enfim, para finalizar queria apenas dizer que quando digo que o Brasil tem vantagens com seus juros altos, reconheço ser um cara otimista, pq procuro tirar sempre um lado bom independente do momento. Acredito que ficar reclamando da vida, se vitimando sem fazer nada a respeito não resolve.
Tem gente que vive assim, se vitimando… pra mim é um mistério. Pode ser por preguiça/acomodação, ignorância, instabilidade emocional… um pouco de cada coisa… as vezes pode ser só porque é mais fácil culpar fatores externos do que assumir sua responsabilidade na vida.
Não acho que o modelo de juros altos do Brasil seja o melhor modelo. Neste sentido, posso ter sido até um pouco tendencioso, entusiasta demais de poupar e receber juros por isso. Não ignoro o fato de que o spread no Brasil seja alto etc… Mas se vc decidir olhar o copo meio cheio, pode ajustar as velas e aproveitar uma oportunidade incrível… vender lenços, ao invés de ficar por aí, chorando…
A todos, um abraço!