“Eu odeio os Estados Unidos”. Assim começou meu domingo, com este comentário da minha enteada sentada a mesa de café da manhã recheada, ironicamente, de panquecas gostosas ao melhor estilo norte americano (verdade que faltavam o bacon e a saussage). Perguntei a ela o porquê do comentário e ela respondeu que o mundo seria melhor não fosse os EUA.
Pensei logo nos professores de história formados na UFF… senti um pouco de “aff” e o mal estar me fez pensar que talvez eu estivesse “mto de direita hoje”. Mas a adolescência é assim mesmo, existe uma certa tendência esquerdista que não necessariamente tem a ver com os professores de história. No dia anterior mesmo, discutíamos o comportamento de muitos adolescentes que se sentem donos do que nunca construíram. O mundo acabou de começar pra vcs amigos…
Mas não sou nenhum Donald Trump da vida. Mto pelo contrário. Em junho deste ano, numa Conferência em Chicago, no buffet de almoço, sentei aleatoriamente a uma mesa ao lado de um professor de economia da Universidade de Illinois. Para quem não sabe, Chicago é a grande casa do liberalismo econômico atual e, pelo visto todos por lá levam isso mto a sério. O professor tinha nascido na Coréia do Sul mas tinha aquele orgulho tipicamente americano da liberdade e de tudo mais que os EUA representam.
Falamos de Brasil e da Dilma, da Coréia do Sul e das intervenções do Governo na economia por lá. É uma troca interessante, tds nós aprendemos com professores, mas para eles tbm é importante saber como funciona “a vida real” do mundo corporativo. Como um típico “chicaguense”, o professor me dizia que o Estado era a raiz de todos os problemas sociais e que o mercado se ajusta por si só sempre.
Seria tudo mto fácil se não fosse contraditório, já que a Coréia do Sul se desenvolveu mto nos ultimos 50 anos devido à forte intervenção estatal. Logo, discordei do professor: “Ora, as 2 maiores crises econômicas do mundo, em 1929 e 2008, foram crises de excesso de liberalismo”. Eu esperava alguma resposta dele na ponta da língua mas a verdade é que o professor pareceu refletir sobre uma afirmação tão básica. A verdade é que na história do mundo nenhuma crise por excesso do Estado causou tantos danos quanto as crises de sua ausência. Isto não é opinião, é contestação.
Existe um certo romantismo de ambos os lados. O Comunismo já se provou ineficiente e o Capitalismo, desigual. Ambos, da forma como são hj, são injustos. Há quase nenhuma meritocracia no Comunismo enquanto que no Capitalismo só haverá meritocracia real quando houver uma maior igualdade de oportunidades.
A bem da verdade, me incomoda mais o pensamento em que o Estado é o maior responsável pela vida dos seus cidadãos. “Se não tenho sucesso, a culpa é do Estado”. A esquerda tem a estranha mania de achar que o bem de um é o mal do outro. Esquecem, por exemplo, que os empresários são figuras remuneradas pelo risco que correm ao investir e empreender e que são eles que geram empregos aos trabalhadores, que bancam a maior parte da carga tributária que é revertida em escolas públicas, SUS, bolsa família e etc.
A esquerda demoniza o tal “interesse dos empresários” como se isso significasse automaticamente “contra o interesse do povo”. Por que? Empresários são responsáveis pelo pão que comemos, pelo carro que usamos e TV que assistimos. Não fosse pela industrialização da produção de alimentos, com redução de custos através do investimento em tecnologia e ganhos de escala, que conseguiu contrariar a teoria de Malthus, certamente teríamos uma situação de fome no mundo infinitamente pior que a atual. É claro que ele faz isso para seu próprio bem, o que incomoda a esquerda, mas o resultado final é o bem global.
Particularmente, admiro o empreendedor brasileiro que decide arriscar num cenário de incertezas e que, contra tudo, prospera. É ele quem paga meu salário no fim do mês. Me sinto meio que sócio dele no fim das contas (só que sem risco)… o seu sucesso será o sucesso de seus melhores empregados, já que em time que se ganha não se mexe.
Mas nem todos são assim. Para a esquerda, o fato de o empreendedor ganhar mais que eu, independente dele ter risco é por si só abominável. Era melhor que ele não tivesse lucro e nem eu salário. É melhor nivelar por baixo do que ser desigual, mesmo que a fonte da desigualdade seja aparentemente justa, como um retorno pelo risco corrido. Ou como respondeu pela manhã minha enteada quando eu disse que os EUA compram bens do Brasil, o que é bom para a gente: “sem eles, a gente poderia ser até mais pobres mas não teriam eles para serem mais ricos que a gente”. Acho que essa frase, de uma criança, resume bem a cabeça de um comunista adulto.
Já ao meu ver, a pergunta é menos o que o Estado TEM que fazer para o cidadão mas o que ele PODE fazer. O Estado não deve ser responsabilizado por nossas vidas, nós é que devemos ser. Fracasso e sucesso tem que depender de nós como resultado de nossa capacidade, esforço, preparação, dedicação, enfim…
Mas de fato o Estado tem meios de buscar equalizar distorções pouco meritocráticas como a desigualdade de oportunidades. Que meritocracia capitalista é esta,em que o principal fator determinante de sucesso na vida é em que família nasci?
Enfim, entre a direita e a esquerda, no fundo, todos parecem ter um pouco de razão. Mas o radicalismo que vem se acentuando no Brasil está jogando tudo fora. O objetivo parece não ser defender seu ponto de vista, mas ser contra o do outro. Uma pena… porque a virtude parece morar exatamente no meio.
A todos, um grande abraço!
Excelente muito bom