De repente o “salário mínimo” se tornou um dos principais argumentos de comparação de qualidade de vida entre os países. Faz sentido? Algum sentido, sim, mas as pessoas estão exagerando um pouco.
Em primeiro lugar, o salário mínimo, é importante lembrar, é uma decisão política de um governo, não é algo intrínseco de uma sociedade. Da noite para o dia, junto ao Congresso, a Sra. Dilma Rousseff poderia, em uma canetada, alterar o salário mínimo brasileiro para R$5 mil ao mês se quisesse. Mas a grande questão é: isto seria bom para o Brasil? Provavelmente não.
Na verdade, a questão do salário mínimo trata-se de um “trade-off” (uma troca). A decisão de ter um salário mínimo maior está relacionada a aceitar: a) uma maior taxa de desemprego; e b) maior informalidade no mercado de trabalho. Isto para todos os países do mundo. No caso do Brasil ainda teríamos uma dor de cabeça maior devido ao rombo previdenciário.

Em um país tão heterogêneo quanto o Brasil, em que parte da população está alinhada à maior produtividade do mundo enquanto a maioria mal frequentou a escola, o salário mínimo alto tenderia a prejudicar demais os trabalhadores mais improdutivos, e como disse, lhe restariam a informalidade ou o desemprego.
Isto não tem absolutamente nada a ver com os salários que ganham os advogados, engenheiros, médicos… E mais, no 5º maior país do mundo, com a 5ª maior população, um país praticamente do tamanho de toda a Europa, o salário mínimo nacional deve atender a realidade de São Paulo tanto quanto a do interior do Amapá. E deveríamos mesmo impedir o trabalhador do interior do Amapá de trabalhar formalmente simplesmente porque o salário mínimo não atende ao trabalhador de São Paulo?
As leis de mercado se ajustam e é possível ganhar mais que um salário mínimo sem que necessariamente haja uma lei para isto. Minha diarista consegue ganhar por mês o equivalente a quase 3 salários mínimos trabalhando apenas 3 vezes na semana.
Se uma diarista na Suíça ganha um salário mínimo de lá e a mesma diarista no Rio ganha 3 vezes o salário mínimo daqui, isto significa que a diarista daqui está melhor? Claro que não. Assim como não faz sentido uma série de argumentos relacionado ao mínimo. De que adianta comparar o nosso salário mínimo com o suíço então? Para algo serve. Mostra que ao menos os que ganham menos lá tendem a ter uma qualidade de vida superior aos que ganham menos aqui.
A verdade é que em tempos de “fuga de Dilma” grande parte dos brasileiros está insatisfeita. Os que querem sair do Brasil, as vezes precisam de argumentos até para se convencerem de que estão fazendo o certo, afinal, é muito difícil deixar o país, a vida, a família, os amigos… tudo, em busca de uma vida melhor. Para os que ficam, não é diferente. A vida é dura aqui e estamos cansados da luta diária com o pouco retorno em termos de qualidade de vida.
Mas não é necessário usar este tipo de argumento com pouco sentido. Se você não ganharia o salário mínimo se trabalhasse aqui no Brasil, mas ganharia se o fizesse na Itália, que diferença faz o salário mínimo brasileiro ser menor que o italiano? Você deveria comparar o salário que ganharia aqui com o que ganharia lá, certo?
A renda média do trabalhador, inclusive, é uma medida mais inteligente de comparação do que o salário mínimo. Sabia que na Alemanha, até muito pouco tempo atrás, não existia um salário mínimo nacional? Significa que a Alemanha é mais atrasada que o Brasil? De jeito nenhum! É uma questão de escolha política. Vale analisar até qual o percentual da população ganha o salário mínimo em cada país.
É possível ter mais coerência. Não precisamos forçar a barra para justificar sair do país ou acalmar o stress do dia a dia. O Brasil é um país ainda subdesenvolvido (em desenvolvimento, vai), com índices alarmantes de violência, um país muito desigual. A qualidade de vida aqui não é do mesmo padrão europeu e nem norte americano. Com raríssimas exceções, não é nem perto!
Mas para se convencer disto, não é preciso fazer a tal conversão seletiva – onde só se converte quando é para mostrar o quanto é pior no Brasil, e quando aqui é mais barato, usa-se do argumento “mas eu ganho em dólar”. Também não é preciso usar o argumento de que foi trabalhar na Austrália porque lá o salário mínimo é mais alto, sem que conheça ninguém que ganhe um salário mínimo no Brasil.
Vá! Morar fora pode ser uma aventura, mas também uma necessidade. E, arriscaria dizer que mesmo que morássemos num país de primeiro mundo, ainda assim valeria a pena. Morar fora abre nossa mente, nos livra de preconceitos, nos dá uma visão mais abrangente de diferentes culturas. Tudo isto valeria a pena, como disse, mesmo que o Brasil fosse um dos países mais desenvolvidos do mundo. Coisa que não é.
Mas, nem por isso…
A todos um grande abraço!