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Segundo o Dieese,  o salário mínimo no Brasil em 2016 deveria ser de R$ 3,8 mil ao mês para suprir as necessidades básicas de uma família. Segundo o artigo 7º da Constituição Federal, o trabalhador brasileiro tem direito a “IV – salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

No mundo real, o salário mínimo a R$880 representa apenas uns 20% do que deveria caso fosse respeitado o texto da Constituição. Por que? Porque o salário mínimo real reflete muito melhor a dinâmica do mercado do que o belíssimo texto – mas hoje utópico – que está em nossa Constituição. Em linhas gerais, o que define o meu salário é o valor da minha mão de obra no mercado, considerando como teto máximo o retorno que dou a empresa.

Valor de mercado

O principal fator de definição salarial é o mercado. O quanto vale este trabalhador no mercado? Neste caso, o que mais conta é a percepção do mercado em relação ao profissional: anos de experiência em empresas grandes, multinacionais, falar inglês ou outra língua estrangeira, ter cursado um bom curso numa boa universidade, ter conhecimentos técnicos comprovados etc. O mercado de trabalho respeita a lei da oferta e da demanda. Isto as vezes é um pouco difícil de alguns funcionários entenderem. É recorrente ouvir “se eu produzo mais e melhor que fulano, por que ele ganha mais do que eu?”. A resposta pode ser que mesmo sendo um funcionário menos produtivo, ele pode ser mais valioso no mercado do que você. O empregador naturalmente joga o jogo do mercado. Um exemplo: se você é muito bom mas, de repente, por ser recém formado, ganha R$3 mil enquanto um colega muito mais experiente ganha R$6 mil mesmo sendo muito menos produtivo, a percepção do empregador provavelmente é a de que seu colega teria mais chances de receber uma oferta melhor do que você no mercado. Isto porque os processos de seleção são falhos. É impossível em uma entrevista, prova ou dinâmica de grupo ter  uma noção definitiva de quem irá se adequar melhor à posição. Por isto, na hora de escolher um candidato, o empregador tenderá a valorizar experiências anteriores, formação acadêmica entre outras coisas, já que se pressupõe que estas qualidades tornam um profissional mais produtivo, o que embora na maioria dos casos seja verdade, muitas outras vezes não o é.

Além disso, um fator adicional que incomoda alguns profissionais é saber que o que ele produz para a empresa é muito mais do que o que a empresa o paga. Mas a questão do quanto se produz tem relação apenas com o teto para o seu salário (explicarei melhor abaixo). Eu posso ser responsável direto por gerar ganhos anuais de R$ 10 milhões para minha empresa mas ganhar R$ 100 mil por ano – apenas 1% do que produzo diretamente com minha mão de obra, já desconsiderando os demais custos da empresa.  Mas se eu rejeitar trabalhar por este valor e tiver um número razoável de pessoas que estariam dispostas a receber o que ganho e que pudessem me substituir, por que a empresa aumentaria o meu salário? [Existe uma máxima no mercado de trabalho que diz que ninguém é insubstituível] De novo, é essa relação entre oferta e demanda por mão de obra (o que chamo aqui de mercado) que define o valor do meu salário e não necessariamente o que produzo para a empresa. E neste aspecto, a percepção é definitiva.

O retorno da empresa é o teto salarial

Por outro lado, é importante ressaltar que este valor de mercado tem um limitador: o retorno direto do que o trabalhador produz para a empresa. Este funciona como um teto para o salário de mercado. Se por um lado o fato de eu produzir R$ 10 milhões não me garante ganhar nada relacionado a isso (já que como disse antes, é a lei da oferta e da demanda que define o salário), por outro lado parece bem óbvio que o seu custo total para a empresa (salário + encargos) não pode ser superior ao que você produz para ela – os R$10 milhões do exemplo acima – porque senão a empresa incorreria em prejuízo contratando você, certo? E isto é verdade independente de o quanto for o salário de mercado. Simples: se produz menos do que recebe: rua.

Apesar do conceito ser mais do que básico e intuitivo, é sempre bom lembrar que um dos principais fatores determinantes da sua remuneração é o quanto você produz. Se produz R$ 1 mil por mês, o máximo que vai ganhar é R$ 1 mil reais já incluso os encargos (na verdade até menos do que isto porque a um custo igual ao valor de sua produção, você não gera qualquer retorno positivo para a empresa).

Mas por incrível que pareça, as pessoas parecem acreditar que o elas deveriam ganhar é o que precisam para manter um determinado padrão de vida – independente de o quanto produzem. Inclusive, em gestão de RH, o argumento de querer um aumento com a justificativa de que irá casar, ter filhos, etc é muito fraco e descabido. Se coloque no lugar do empresário e veja se faz algum sentido isso! O correto é justificar o pedido com as entregas e o desenvolvimento profissional que você vem demonstrando. Desenvolvimento este que deve ser percebido pelo empregador como um risco crescente de perde-lo para o mercado.

Portanto, apenas para reforçar, não é seu custo de vida que irá definir seu salário, mas o valor de mercado do mesmo considerando como um teto o retorno que a empresa tem com você.

Dito isto, o que se conclui é que o trabalhador médio brasileiro é incapaz de produzir renda suficiente para gerar um estilo de vida compatível com o que está em nossa Constituição.

Como já disse no passado, aumentar o salário mínimo depende apenas de uma canetada. É uma tentação populista, inclusive. Mas seu custo é o aumento do desemprego e da informalidade para aqueles incapazes de produzir mais do que o valor de um salário mínimo. Em termos práticos, aumentar o salário mínimo para R$ 3,8 mil ao mês significaria jogar ao desemprego ou à informalidade uma multidão de trabalhadores incapazes de gerar retorno equivalente a este valor ao seu patrão. No Brasil são muitos!

O que é realmente eficaz para o crescimento do salário mínimo no futuro é aumentar a produtividade do trabalhador. É isto e ponto.

Bem, e como na vida tudo é um trade off (uma troca), quero encerrar dizendo que defender muitos direitos mínimos ao trabalhador é colocar o desempregado numa situação cada vez pior. E mais: jogar os trabalhadores menos produtivos no desemprego. Até onde vale a pena?

Até a próxima!

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