O Apocalipse
Tudo incerto para quem não conhece a Palavra. “Porquanto se levantará nação contra nação e reino contra reino e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.”
Tem quem esteja prevendo literalmente o fim do mundo com a notícia da saída do Reino Unido da União Europeia. Tem doido para tudo, é claro. Mas mesmo os ateus estão assustados. As bolsas despencaram no mundo todo. E como sempre em momentos assim, o dólar disparou. Euro e principalmente a libra, derreteram. O principal motivo para o pânico é a incerteza. Ninguém sabe o que será e como será daqui para frente.
Pingos nos ‘i’s
Só para ninguém confundir. O Reino Unido continua na União Europeia, ok? Ao menos por enquanto. O que ocorreu não foi a saída, mas a decisão por sair – por uma consulta popular. “Povo vocês querem continuar na UE ou sair do Bloco?” O Sair ganhou. Foi isto e só isto por enquanto. O que virá pela frente ninguém sabe pois ninguém nunca saiu antes. Especialistas dizem que deve levar em torno de 2 anos até que saia mesmo (respeitando acordo de Lisboa). Mas na boa, pode ser amanhã, mês que vem ou até pode sair bem furrecamente, “ficando sem estar”.
Quanta confusão
Ninguém sabe nem o Cameron, atual futuro ex-primeiro ministro britânico…
Reino desUnido
As incertezas são tão grandes que as consequências podem incluir a saída da Escócia do Reino Unido de modo a que o país continue na UE. Vale lembrar que os escoceses votaram há pouco tempo atrás em plebiscito parecido com este mas para permanecer no Reino Unido. 62% dos escoceses votaram para permanecer no bloco. Na Irlanda do Norte, idem. E olha que lá, a confusão no passado já foi bem grande.
Por que saíram?
O Reino Unido, assim como a maior parte dos países europeus, possui um Estado muito assistencialista. Os ingleses sentem receio de muitos imigrantes pressionarem as contas públicas e roubarem seus empregos, o que curiosamente, está longe de acontecer dado que o país tem uma taxa de desemprego de em torno de 5,5% (bem saudável). A ideia da inclusão da Turquia gera receios maiores. Primeiro porque o país é um dos mais populosos de todo o bloco (só perde para a Alemanha) e em segundo lugar porque a confusão na Síria e a recente onda migratória de refugiados fragiliza a ideia de livre circulação de pessoas pelo bloco, em especial, um que inclua a Turquia, vizinha da Síria.
Por que é ruim então?
Para a economia mundial é claro que assusta. A saída da UE deixa o RU isolado num continente em que todos os países podem comercializar livremente e eles… não. Acordos de livre comércio estimulam a troca e o crescimento econômico. A ironia é esta decisão ter sido tomada exatamente na casa de Adam Smith e na maior rival da Alemanha nazista.
Se correr o bicho pegar, se ficar o bicho come
Quem mais perde com isto tudo é a Inglaterra, que põe em xeque o Reino Unido e sua economia. Em segundo lugar, sofre a Alemanha, principal economia e líder do bloco europeu. A saída do RU do bloco, retira nada menos que a 2ª maior economia do bloco – ou seja, fora do alcance da forte indústria exportadora alemã. Por sinal, a Alemanha fica num impasse: como sobreviverá o bloco sem o RU? Uma alternativa seria fazer um acordo comercial entre RU e UE, mas o sucesso deste acordo poderia instigar outros países a seguirem o mesmo caminho, esvaziando politicamente o bloco, o que reduziria consideravelmente a força política da Alemanha (que já não possui assento no Conselho de Segurança da ONU e nem armamento nuclear). Mas caso a UE vire as costas para o RU, a consequência mais óbvia seria uma aproximação comercial entre o RU e os EUA, com a UE de fora. Ou seja…
… mas também não chega a surpreender tanto
Só recapitulando, a ideia da UE surgiu de Alemanha e França, no inicio dos anos 50. Os 2 países cresceram muito fortemente no pós-guerra. Em 57, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo se juntaram às 2 outras superpotências para assinar o Tratado de Roma, o início de tudo. Os ingleses ficaram de fora até que em 1973 entenderam que não poderiam mais ficar de fora de um bloco tão forte. Mas sua presença sempre foi mais apagada no bloco do que a da dupla Alemanha-França. Então, não aceitaram o euro como sua moeda. Na Guerra do Iraque, o Reino Unido rachou politicamente o bloco ao se posicionarem a favor dos EUA e não ao lado de Alemanha e França. O pé atrás inglês com a UE não é de hoje.
A economia inglesa
…não é exatamente o maior case de sucesso econômico dos séculos XX-XXI. A outrora maior superpotência econômica imperialista, se tornou improdutiva, ultrapassada por EUA, Japão, China e Alemanha, com PIB equivalente ao francês.
A terra da revolução industrial, com suas enormes fábricas, foi incapaz de se sustentar com uma moeda supervalorizada que onera seus custos de produção. Hoje o país vive principalmente do mercado financeiro, na qual Londres se destaca como o maior centro financeiro do mundo – posição ameaçada pela saída da UE. Ainda assim, o país já ultrapassou a pior fase no fim do século passado e se reinventou com viés neoliberal.
E o Brasil?
Para o mundo todo um desaquecimento econômico global é preocupante. Mas é cedo para dizer. A verdade é que a saída do RU do bloco abrirá espaço para acordos bilaterais, incluindo acordos entre Brasil e RU.
A que ponto chegamos…
Mudando de assunto porque nem só de Brexit se vive… Aqui no Brasil, em discurso de Goldfajn, “Indicado ao BC diz que vai controlar inflação” foi o título da matéria da Exame. Em outra reportagem “Dólar cai com voto de confiança a Golffajn no Banco Central”… e dólar e euro despencaram no dia.
E eu jurava que o controle da inflação já fosse meta do BACEN antes… #foraTombini wins.
OiGX
Este mês a Oi entrou com pedido de Recuperação Judicial. É o maior pedido do tipo na história do Brasil. A dívida de R$ 65 bilhões equivale ao PIB dos estados de Tocantins, Acre, Amapá e Roraima somados. As ações da empresa cairam ~99% nos últimos 3 ou 4 anos.
As empresas X já tinham passado por isto, no passado. Assim como as X, a Oi é carioca… Petrobras e Vale também são. Hoje no Brasil está ruim para todo mundo, mas no Rio, acreditem, tá bem pior!
Para finalizar..
O espaço dedicado ao Brexit aqui se justifica menos pelo seus impactos econômicos diretos mas pelo seu simbolismo: a decisão destoa da ideia de maior globalização e livre comércio e é uma volta ao nacionalismo que fez tanto mal à Europa. Fica a sensação de retrocesso global…
A todos um grande abraço e até a próxima!
Muito bom seu relatório. Parabéns