Uma coisa é como a gente se vê, outra coisa é como os outros nos veem.
Enquanto estávamos excessivamente preocupados com a organização e a infraestrutura dos Jogos Olímpicos do Rio, o que realmente chamou a atenção do mundo foi o comportamento do torcedor brasileiro.
Aquele povo caloroso e acolhedor, quando sobe em uma arquibancada para torcer, ao invés de focar no incentivo do time na qual torce, tem o horrível hábito de vaiar o time adversário por qualquer motivo… seja por algo que foi dito ou porque não simpatiza com a nação ou apenas porque o time predileto está enfrentando ele.
Esse comportamento – que para a gente não parece nada demais – explica muita coisa.
No Brasil, adversário é confundido com inimigo. A competição, em geral, para o povo brasileiro é algo que ele enxerga como agressivo.
Em muitos países, em especial os de primeiro mundo, a competição é vista como um incentivo, algo saudável. Não é o adversário que deve ser pior que você, você é que tem que ser melhor e superá-lo. Quanto mais forte for o adversário, maior o esforço e mais valiosa será a vitória. No fim, a competição leva à superação e a conquistas inacreditáveis. Até os derrotados são dignos de reconhecimento pelos ótimos resultados. É mais do que esporte, é uma cultura que é levada para vida e para o mercado de trabalho.
Aqui no Brasil a vitória ofende. Somos um país que cada dia se mostra mais adepto a uma cultura de “invejionismo”, onde se abomina a competição para que não haja ninguém melhor que ninguém. A falta de reconhecimento da vitória acaba nos nivelando por baixo. Não há espírito esportivo na cultura brasileira. Um vencedor não é reconhecido como uma fonte de inspiração para os demais, algo que se almeja alcançar. A mente do brasileiro prega que o vencedor deve sentir pela derrota dos demais mas nunca o contrário. Ora, por que é impossível se alegrar com a vitória de um oponente ao ter sido ele melhor e a vitória justa… tão justa quanto a sua derrota?
Pudera. Por estas e outras que é raro reconhecer ídolos no Brasil. O atleta do século não é o ídolo nacional que poderia se imaginar que fosse no (ainda) considerado “país do futebol”… Enquanto isso, um viciado em drogas, flagrado em doping etc e com números bem mais modestos do que o do nosso é idolatrado em um país bem próximo daqui.
Só o começo. Esporte a parte, não cultivamos ídolos em nossa história como um todo. Enquanto George Washington, Lincoln, Reagan, De Gaulle, Churchill – só para nomear alguns – são admirados… aqui não. Não tem um. Nem quem morreu pelo país.
Ídolo, meus amigos, não é santo e nem perfeito. Ele erra, fala besteira as vezes, toma decisões que não concordamos. Ídolos são humanos. Mas são pessoas que admiramos por qualquer motivo, por alguma habilidade específica que seja extraordinária e que de alguma forma nos inspire, nos dê orgulho.
Ter um ídolo é um sinal de humildade… de reconhecer as virtudes que alguém possui. Aqui não. A vitória ofende. E é geral. Há poucos anos, tivemos um empreendedor que figurou entre os mais ricos do mundo. Poderia ter servido de fonte de inspiração para a molecada, de que é possível chegar lá… mas sua derrocada foi comemorada por grande parte da população. Só aqui…
O Brasil não entende a beleza do esporte porque não é capaz de entender a beleza da vitória. “Há quem chore por saber que as rosas tem espinho. Outros sorriem por saber que os espinhos têm rosas!” dizia Machado de Assis. Somos o povo que chora pelos seus espinhos…
Os país que vaia seus adversários e os vê como inimigos não é capaz de se alegrar pela vitória alheia. Ao invés do foco em vencer, aqui o foco é em que o outro perca. Diferença sutil mas que explica por que o país com 6ª maior população no mundo, a 8ª maior economia global, tem como melhor posição no ranking de medalhas a 15ª colocação nas Olimpíadas de 1920!!!
Nas escolas não há infraestrutura para a prática devida do esporte porque o esporte não é prioridade. Seno, cosseno, mitocondriais e afins são mais valorizados do que o sentido de coletividade, esforço, superação e disciplina que o esporte traz. O esporte ensina a vencer e a perder, uma preparação para a vida. Uma oportunidade de ensinar às crianças como trabalhar em equipe, penerar líderes, focar em vencer e se superar. Sem desistir.
Vencer nem sempre é a alguém. Acima de tudo, a gente precisa vencer a nós mesmos ao atingir resultados que nunca imaginávamos. Elevar a autoestima. E no fim, é preciso aceitar também as perdas. Quando se fez de tudo para vencer e alguém mais lhe venceu, se inspire, aprenda com ele. Não pode ter nada de errado em admitir que outros são melhores que você. Estamos perdendo mais uma lição: a humildade.
Aqui no Brasil, a regra geral dos educadores é fugir da competição. Enquanto o esporte em países do primeiro mundo podem valer bolsas em Universidades, no Brasil a nota dos alunos em Educação Física é quase um jogo aleatório. Veio a todas as aulas, fez corpo mole nas atividades, não buscou se superar, não contribuiu para a união da equipe, nada.. 10 para ele.
Fica difícil um país como esse vencer, se ele próprio abomina a vitória. Essas vaias nas Olimpíadas assustam os estrangeiros. Para a gente está tudo normal.
Sem querer se superar, sem querer se esforçar… como que num passe de mágica, queremos melhores hospitais, segurança e escolas… porque não aprendemos desde criança que é do esforço da plantação e da colheita que vem a boa safra.
Para o povo que não vê valor na competição, que inveja e se ofende ao invés de aprender com a vitória do próximo é melhor nem competir. Perder faz parte do jogo… mas a maior derrota é nem tentar. Essas vaias são para nós mesmos.
Até a próxima!