Em novembro de 2016, a “taxa justa de dólar” era de aproximadamente R$ 3,39. No dia 11 de novembro de 2016, no mercado, a taxa de câmbio comercial fechou também a R$ 3,39 – exatamente o mesmo valor.
Quem acompanha o blog há um tempo sabe que é a primeira vez que isto acontece. Nos últimos anos vimos muitas distorções do dólar comercial em relação ao seu “valor justo”. Por muitos anos o real ficou supervalorizado até que há uns 2 anos, a balança virou e de supervalorizado a moeda passou a subvalorizada (a mudança do patamar de R$ 2,00 para R$ 4,00).
No gráfico abaixo pode-se ver este este movimento e o quão raro é a situação que vivemos atualmente, onde há a igualdade entre o valor de mercado e “valor justo”.
A linha azul do gráfico é o “valor justo”, ela é mais estável e vai subindo lentamente. Já a linha vermelha é a cotação do dólar no mercado de câmbio, bem mais volátil.
Por todo o período em que a linha vermelha esteve abaixo da linha azul, o real estava supervalorizado.
Se você quiser entender melhor o que causou estas distorções grandes, recomendo que leia o artigo publicado no ano passado: Qual o valor justo do dólar em 2015?. Lá eu explico fase a fase usando este mesmo gráfico acima. É bem interessante!
O que é o “valor justo”?
Se você é novo no Henriquecer, pode estar se perguntando o que é este “valor justo” do dólar. Na verdade, o nome mais correto seria “taxa de câmbio real” mas acho este nome mais confuso.
O que faço para alcançar o valor justo é descontar as 2 moedas pela inflação de seus respectivos países (Brasil e EUA) desde Jul/94. Esta foi a data em que o Plano Real estabeleceu a paridade entre as moedas.
Como a inflação é a perda de valor de uma moeda, ao descontar o real pela inflação brasileira e o dólar pela inflação americana, tenho uma nova relação justa entre as duas moedas.
Pode parecer até um pouco complexo mas não é. É muito simples. Se com um dólar você consegue comprar uma determinada cesta de produtos nos EUA e para comprar esta mesma cesta de produtos no Brasil é preciso R$ 3,39, então R$3,39 = US$ 1,00 é a relação justa entre as duas moedas.
Esta é uma cotação de equilíbrio onde o real não está nem muito caro nem muito barato em relação ao dólar: está justo.
Quando o dólar estava a R$ 4,00, dizíamos que viajar para o exterior estava caro… “com este dólar aí, tô fora”. Por outro lado, quando a cotação estava no patamar de R$ 2,00, as lojas em Miami e NYC estavam lotadas de brasileiros aproveitando a “pechincha”.
É claro que esta é uma assunção geral. Ela não se aplica a todos os produtos. Produtos produzidos nos EUA serão mais baratos lá do que no Brasil da mesma forma em que cachaça e havaianas são mais baratas no Brasil. Isso é bem lógico. Produtos importados são naturalmente mais caros. Como os EUA produzem muito mais coisas que o Brasil, a impressão as vezes pode ser de que tudo lá é mais barato – o que não é verdade.
Além disso, os produtos em geral tendem a ser mais baratos nos EUA enquanto os serviços, mais baratos no Brasil.
O preço do primeiro grupo está relacionado à diferença na forma como é cobrado imposto entre os 2 países (no Brasil a carga tributária cai mais sobre os produtos) enquanto o preço mais baixo dos serviços no Brasil se deve a uma mão de obra mais barata que nos EUA.
No longo prazo dólar tende ao seu valor justo
A análise do “valor justo” é mais relevante no longo prazo já que no curto, a expectativa sobre diversas variáveis como taxa de juros, instabilidade política e etc acabam pesando.
No longo prazo, a cotação tende a variar em torno de sua cotação de equilíbrio. Isto devido ao que chamamos em economia de “ajuste pela Balança Comercial”.
O que isto significa?
Primeiro vamos relembrar a Lei da Oferta e da Demanda, que diz que quando um ativo é abundante, menor é o seu valor. E, é claro que da mesma forma, quanto mais escasso, maior o seu valor.
Como hoje no Brasil o câmbio é flutuante, o mercado é quem dita seu valor sob a lei da oferta e da demanda.
Ou seja, quando entram muitos dólares no país, sua cotação em relação ao real cai e o real se valoriza.
Ajuste no longo prazo
O real desvalorizado é um estímulo para a exportação já que numa comparação internacional, os custos de produzir no Brasil ficam mais baixos: uma grande vantagem competitiva.
Quando o real está valorizado (como entre os anos 2006-2014) a indústria brasileira sofre forte concorrência dos importados, que ficam mais baratos que os produtos brasileiros. As exportações diminuem e as importações aumentam.
No longo prazo, caso não haja uma forte intervenção estatal, estas distorções tendem a se dissipar: é o ajuste pela Balança Comercial.
Para entender como ocorre este ajuste, vamos supor que no início do período, o real esteja valorizado.
Como nossos custos ficam altos, nossos produtos se tornam menos competitivos e as exportações diminuem enquanto as importações aumentam pois fica mais barato importar do que produzir no próprio país.
Consequentemente, menos dólares entram na economia. Mas com a pouca entrada de dólar nesta situação, o dólar agora passa a se valorizar e o real se desvalorizar tornando agora mais barato produzir e exportar do que importar.
Como disse acima, com o real agora desvalorizado, o efeito é inverso: há estimulo à exportação e reduz-se as importações (que ficam mais caras). E continua-se este mesmo efeito até que a cotação se ajuste ao seu ponto de equilíbrio.
É próxima a este ponto de equilíbrio que a moeda está no momento…
até quando… ninguém pode assegurar.
Bem, espero ter sido claro num assunto um pouco mais complexo (mas tão interessante) como este.
À todos, um grande abraço!