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Eu diria que o investimento em ações é o rei no mundo dos investimentos. É verdade que nem sempre é o melhor investimento mas é certamente indispensável na carteira de um investidor.

Só que o investimento em ações gera uma certa fantasia… para o bem e para o mal. Tem gente que tem pânico em investir em ações, diz que não o tem o perfil e etc. Outros, em compensação, acham que investindo em ações se tornarão multi-milionários da noite para o dia. 

Este artigo é para acabar com qualquer tipo de fantasia, o investimento em ações é o que é e ponto. Não há mágica, comprar uma ação é comprar uma parte de uma empresa, nada além disso. Vamos ponto a ponto.

O que é uma ação

Um detentor de ações (acionista) tem direito a uma parte dos ativos e ganhos da corporação. Em outras palavras, de maneira geral, podemos dizer que um acionista é proprietário de uma empresa ou um sócio.

Todas empresas tem acionistas?

No sentido estrito, não. No Brasil, apenas as sociedade anônimas (as S.A.) possuem ações, enquanto as sociedades limitadas (Ltda) possuem quotas (ou cotas). Apesar disto, grosso modo, tanto os cotistas quanto os acionistas são “donos” de uma parte de uma empresa. E toda empresa tem dono, ao menos um, certo? 

A grande diferença entre uma Ltda e uma S.A. é jurídica, limitando ou estendendo a responsabilidade de seus donos quanto aos ganhos e perdas e os direitos e deveres da empresa.

Toda Sociedade Anônima (por ações) tem ações na bolsa?

Também não. Uma S.A. pode ter suas ações negociadas na Bolsa de Valores ou não. No Brasil, para uma empresa ter ações negociadas na bolsa ela deve estar registrada na CVM e emitir estas ações. A estas, chamamos de Empresa Aberta (ou Companhia de Capital Aberto). Caso a empresa não tenha ações registradas na bolsa, chamamos de Empresa Fechada.

Por que uma empresa emite ações?

Imagine que você queira abrir uma empresa de Food Truck. É possível que procure um sócio para rachar os riscos e a injeção inicial de capital, certo? É assim que nascem os primeiros acionistas de uma empresa.

Só que ainda depois disso, querendo investir para expandir seus negócios, uma empresa tem duas maneiras:

  1. Através de dívida: a empresa pode ir ao banco e contratar um empréstimo ou emitir um título de dívida ao público (pessoas que queiram comprar um título de dívida desta empresa). Em Finanças, chamamos a dívida de Capital de Terceiros.
  2. Através da emissão de ações: a empresa emite novas ações arrecadando o dinheiro necessário para investir. Esta emissão de novas ações acaba diluindo a participação dos acionistas atuais. Por exemplo, digamos que uma empresa possua 100 ações. 50 são do Joaozinho e 50 do Pedrinho. Ou seja, Joãozinho e Pedrinho tinham 50% do capital total da empresa, cada um. Caso precise de mais recursos, a empresa pode emitir mais 50 ações e digamos que o Dudinha, interessado em investir nesta empresa, compre estas 50 novas ações. Agora, Joãozinho e Pedrinho, que tinham 50% cada, passam a ter 33,33% da empresa cada um – assim como Dudinha, o novo acionista. Em Finanças, chamamos o investimento em ações da empresa de Capital Próprio.

Por que então emitir ações ao invés de pegar empréstimo?

Mesmo havendo diluição, a emissão de ações é mais segura do que o empréstimo. [Só te pago se der certo] Isto porque os novos acionistas serão recompensados com lucros – caso haja lucro! – enquanto no empréstimo, seus juros devem ser pagos havendo lucro ou não, sendo mais arriscado. Além disso, a Companhia já pode estar tão endividada que nenhum credor toparia emprestar ainda mais – não lhe restando outra opção. Mas, de maneira geral, com a emissão de ações é possível arrecadar mais recursos do que com empréstimos que possuem este tal limite de segurança (credor não emprestar mais por empresa já estar endividada). Em Finanças, diz-se ser necessário um equilíbrio entre capital próprio (ações) e capital de terceiros (dívida).

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Toda vez que alguém compra uma ação este valor vai para a empresa?

Não. Para responder esta pergunta é preciso entender que existem 2 mercados: a) o Mercado Primário e b) o Mercado Secundário. 

Uma empresa, quando emite ações, ela o faz no mercado primário, ou seja, em geral ela contrata um banco de investimentos para lhe auxiliar e seu CEO (diretor presidente) e/ou CFO (diretor financeiro) ou outros diretores diversos conversam com investidores que possam estar interessados em comprar estas ações. Então, com investidores demonstrando interesse em comprar estas ações, a empresa abre um período de oferta em que o público em geral, pequenos investidores na maior parte das vezes inclusive, podem reservar a compra destas ações. Então, a Companhia emite estas ações, os que reservaram suas compras, recebem suas ações e pagam por ela. É importante dizer que tudo isto ocorre antes destas ações estarem negociando na bolsa. Assim que emitidas, e a Companhia já tendo recolhido o dinheiro que lhe cabe, aí sim as ações passam a ser negociadas na bolsa de valores. Este é o mercado secundário, em que os investidores passam a comprar e vender estas ações entre si em tempo indeterminado. A empresa não ganha diretamente mais nada com estas trocas que ocorrem no mercado secundário (bolsa de valores), ela já recebeu antes e agora é com os investidores apenas. 

Você pode estar pensando então qual a importância do mercado secundário então para a empresa já que nada muda para ela depois que as ações foram emitidas, mas vale lembrar que é bem provável que ela só tenha conseguido vender suas ações no mercado primário porque existe o mercado secundário. Se não fosse pela possibilidade de negociar estas ações na bolsa de valores, é provável que os investidores nem se interessariam em comprar as ações no mercado primário.

Apenas para conhecimento, quando uma empresa fechada abre capital, chamamos este processo de IPO, Initial Public Offering. Mas empresas já abertas, querendo se financiar novamente, podem voltar ao mercado e emitir novas ações do mesmo jeito descrito no parágrafo assim – sempre no mercado primário.

Então, a empresa não se beneficia pela alta do preço das ações na bolsa?

Diretamente não. Como as ações já foram vendidas no mercado primário, tudo o que acontece depois na bolsa de valores não influencia de forma direta a empresa, apenas seus investidores. Maaaas… vale lembrar que os investidores são os donos da empresa, e o que os donos querem é que suas ações valham mais, certo? Então, o preço das ações em alta é o sinal de sucesso da empresa e um motivo a comemorar mesmo que não afete diretamente as finanças da empresa. Muitos executivos tem bônus ligados à cotação das ações na bolsa, é a maneira em que os investidores – que são os “patrões” dos executivos – fazem para alinhar seus objetivos aos deles.

Também é importante dizer que o preço das ações em alta é bom para a empresa pois traz oportunidade de emissão de ações no futuro a um preço mais elevado.

Como o investidor ganha dinheiro?

Quem não conhece muito bem o mercado de ações tende a achar que um investidor ganha dinheiro apenas comprando e vendendo ações o máximo de vezes possível, procurando comprar na baixa e vender na alta repetidamente. Embora isto seja verdade para alguns investidores, para a grande maioria a coisa não se dá freneticamente assim não. É lógico que todos querem comprar pelo menor preço possível… mas nem todos querem vender imediatamente ou mesmo qualquer dia.  

Como disse no início, um investidor de ações é o dono de uma parte da empresa. Se você abrisse uma empresa, você esperaria ganhar dinheiro comprando e vendendo sua empresa? Não, né? Então…

Existem 2 grande formas de ganhar dinheiro investindo em ações: 1) Ganho de Capital: é quando você compra a um preço e vende por um preço mais alto, como disse acima; ou 2) Dividendos: uma parte dos lucros anuais da empresa é distribuída aos seus acionistas em forma de dividendos. Enquanto você for acionista de uma empresa ela terá que lhe distribuir uma parte de seus lucros proporcional ao número de ações que você possui. 

Uma analogia seria como investir em um imóvel, você pode ganhar dinheiro recebendo o aluguel dele ou vendendo por um valor mais alto do que comprou. Exatamente a mesma ideia.

Ações Ordinárias x Ações Preferenciais: o direito de voto x a preferência em receber dividendos.

Existem dois grandes tipos de ações: as ON (ordinárias) e as PN (preferenciais) e elas se diferenciam basicamente pelos direitos que concedem a seus acionistas. O “N” no final de ON e PN se refere ao fato de serem nominativas, ou seja, seu detentor é identificado nos livros de registro da empresa.

Os detentores de ações ON têm o direito de votar nas assembleias da empresa mas não tem a preferência em receber dividendos. Além disso, todo acionista com ações ON tem direito de participar do prêmio de controle caso o controle da empresa seja vendido a um outro grupo.


As ações PN não dão ao acionista o direito de votar em assembleia e não lhe garante o direito de participar do prêmio de controle em caso de venda do controle da empresa (troca de acionista majoritário). Mas os acionistas preferencialistas têm preferência no recebimento dos dividendos pagos pela empresa, quando ela tem lucro. A legislação estabelece dividendo mínimo obrigatório para as ações PN. Se a empresa não pagar dividendos por três anos consecutivos, os detentores de ações PN adquirem direito a voto.

No Brasil são as ações PN as que geralmente têm maior liquidez mas cada vez mais empresas estão emitindo apenas ações ON. 

Qual comprar: ON ou PN?

Em geral, para o pequeno investidor, o ideal é comprar a ação com maior liquidez. Dificilmente um pequeno investidor terá alguma influencia relevante nas decisões da Companhia mesmo que possua ações do tipo ON. 

Este foi um básico para você começar a entender como funciona o mercado de ações. Claro, para quem não conhece. É apenas para se ambientar no meio do assunto. Vou lhe dar um tempo para digerir estas informações, se interessar, se preparar psicologicamente para se tornar um investidor em ações. O mercado não é só para expert, o fundamental é saber o risco que estará correndo. A este artigo se seguirão outros… o assunto é longo.

Espero ter ajudado, tentei ser o mais claro possível – com possíveis perguntas pertinentes, mas é claro que algo possa ter me passado. Então, qualquer dúvida, escreva nos comentários por favor que procurarei responder o mais breve possível.

Abraços e bons investimentos!

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