Como montar uma carteira de investimentos balanceada?
Um portfólio x um único ativo
Não ponha todos os ovos numa só cesta já dizia a sua avó. Muito sabiamente, diga-se de passagem. É comum ouvir de investidores inexperientes a pergunta sobre qual é o melhor investimento.
Embora um “melhor investimento” possa até existir, dificilmente um produto sozinho pode ser melhor do que um grupo de produtos juntos. Na verdade, corrigindo… algum produto sozinho certamente será melhor que um grupo de produtos. O difícil é saber a priori qual produto será este. Então, dada a incerteza e um determinado nível de risco, um portfólio tende a ser melhor que um único ativo sempre. Isto pode ser provado matematicamente (em outro artigo eu mostro).
Risco x Retorno
Em Finanças, com frequência nos referimos a risco como a volatilidade do ativo. Uma ação arriscada é a em que o intervalo esperado para o seu retorno é muito largo. Como exemplo, digamos que o retorno esperado da ação do Google seja de 15% no ano, mas ao considerar o risco (a volatilidade) da ação, este retorno pode variar entre -20% e +50%. Da mesma forma, uma ação menos arriscada teria um retorno esperado de 8%, e considerando sua volatilidade, o intervalo esperado seria entre 0% e +15%, portanto, um intervalo muito mais curto.
Ainda que ninguém seja capaz de prever com certeza qual será o retorno de uma ação em um determinado período e nem sua volatilidade neste período, a estatística nos fornece meios estimar com um grau de precisão alto… ou ao menos, muitooo mais alto do que um simples chute ou um cara ou coroa.
O Índice de Sharpe é a relação entre o retorno esperado e o risco (volatilidade) de um ativo. Grosso modo, a ideia por trás do índice de Sharpe – de forma bem simplificada – é dividir o retorno esperado de um ativo pelo seu risco [E(R)/σ]. Assim você terá o quanto que cada ativo oferece de retorno para cada unidade de risco. Digamos que, como exemplo, as ações do Google ofereçam 15% de retorno esperado e 30% de volatilidade no ano. Isso significaria que um Índice de Sharpe (simplificado) seria de 0,5.
Maximizando a relação Retorno x Risco
É fácil entender que um Índice de Sharpe maior significa, em geral, uma relação melhor de mais retorno esperado para cada risco a ser incorrido.
Neste aspecto, a diversificação é fundamental. Isto porque ativos em geral reagem de maneiras diferentes à performance do mercado. Ao colocá-los numa mesma carteira, seu risco diminui grosseiramente. E mesmo que um portfólio de ativos possa apresentar um retorno esperado menor do que o de um único ativo, o seu risco será infinitamente menor, fazendo que o Índice de Sharpe na maior parte das vezes seja melhor.
Considerando números fictícios apenas a título de exemplo: digamos que Google sozinha tenha retorno esperado de 15% ao ano e risco de 30% ao ano, Sharpe de 0,5 e que Netflix tenha retorno esperado de 70% ao ano e risco de 70%, Sharpe de 1,0. Ao juntar as duas ações numa carteira, poderíamos ter uma carteira com retorno esperado de 50% e risco de 33%, Sharpe de 1,5. Ou seja, ao combinar as duas ações, temos uma relação risco x retorno melhor do que qualquer uma das 2 ações sozinhas.
Investimento em ETF
E é exatamente esta a vantagem que reside no investimento em ETFs. Com pouco dinheiro, liquidez e baixo custo é possível investir em uma carteira com dezenas ou centenas de ações ao mesmo tempo, apresentando uma relação entre risco e retorno muito mais favorável que o investimento em uma única ação (na maior parte dos casos).
Para entender melhor as vantagens e como investir em ETFs, acesse: CONHEÇA O ETF: A MELHOR ESTRATÉGIA PARA INVESTIDORES PESSOAS FÍSICAS
Ativos livres de risco
Mas nem só de ativos arriscados vive uma carteira. Existem os ativos que chamamos de Risk Free, ou “ativos livres de risco”. São ativos que não apresentam volatilidade ou seja, que seu valor não varia em relação ao retorno esperado. O clássico ativo Risk Free no mundo é o título do Tesouro Americano (T-Bill). Na realidade brasileira, o mais próximo seria o Tesouro Selic (chamado antigamente de LFT). Incluir este tipo de ativo num portfólio geralmente melhora a relação risco retorno desse portfólio. Especialmente no Brasil em que a taxa de juros Selic é historicamente alta.
Outros ativos
Uma infinidade de outros tipos de ativos podem ser incluídos numa carteira para equilibrar sua relação risco-retorno e refletir melhor a personalidade e o grau de aversão ou apetite ao risco do investidor.
Podem ser incluídos: Fundos Imobiliários, Fundos Cambiais, Títulos Públicos pré-fixados, Ouro e muitos mais.
Quantos mais ativos diversificados tiver sua carteira melhor tende a ser a relação risco x retorno. Mas cuidado! Para o pequeno investidor, abrir uma frente tão grande de ativos diferentes pode não ser eficiente já que aumenta os custos de transação (taxas de administração, corretagem etc) e pode deixá-lo perdidinho e sem um bom controle sobre a sua carteira.
Carteira de investimentos
Uma carteira de investimentos balanceada é aquela em que o investidor fixa um percentual a ser investido para cada classe de ativos que ele deseja ter. Por exemplo, digamos que, após estudar e refletir, o investidor decida dividir seus investimentos da seguinte forma:
50% Ações
25% Títulos Públicos
15% Fundos Imobiliários
10% Fundos Cambiais/Ouro
É como escalar sua seleção de investimentos, começando pela tática a ser usada.
Estabeleça a estratégia dependendo do nível de risco que está disposto a correr, colocando seu time mais para o ataque (+ risco) ou mais para a defesa (-risco).
Uma vez que a tática esteja definida, está na hora de convocar os melhores jogadores para cada posição.
Exemplo de escalação completa de uma carteira de investimentos.
50% Ações (ataque / alto risco)
- 35% PIBB11 – ETF It Now PIBB IBrX-50 Fundo de Índice
- 15% SMAL11 – ETF iShares BM&FBOVESPA Small Cap Fundo de Índice
15% Fundos Imobiliários (meio campo / risco médio-alto)
- 5% FMOF11 – Fundo de Investimento Imobiliario Memorial Office
- 5% BBRC11 – Fundo de Investimento Imobiliário BB Renda Corporativa
- 5% SCPF11 – Fundo imobiliário SCP
10% Fundos Cambiais (meio campo / risco médio-alto)
- 5% Fundo Cambial em Dólar
- 5% Fundo Cambial em Euro
25% Renda Fixa (defesa / risco baixo)
- 10% Letra de Crédito Imobiliário (LCI) ou do Agronegócio (LCA)
- 10% Tesouro Pré-fixado
- 5% Tesouro Selic
Balanceamento da carteira
Até agora falamos de forma geral como montar uma carteira qualquer. Uma vez montada, hora de colocar em prática seu balanceamento.
Conforme o tempo for passando, seus investimentos vão apresentar retornos diferentes e inevitavelmente em algum momento sua carteira ficará desbalanceada.
Por isso, a cada determinado espaço de tempo caberá a você reequilibrar a carteira, vendendo ativos que se valorizaram demais e comprando os que valorizaram de menos (ou se desvalorizaram) trazendo seu portfólio de volta à escalação desejada. Este é o rebalanceamento da carteira.
Por que rebalancear?
Você deve estar se perguntando “eu tenho que vender justamente os ativos que mais me dão retorno?” A resposta é sim. Desta maneira, você estará se forçando automaticamente a vender ativos na alta e comprar na baixa, que é o que todo investidor no mercado busca. Além disso, você terá uma carteira sempre alinhada ao seu perfil.
De quanto em quanto tempo devo rebalancear a carteira?
Para o pequeno investidor, não é recomendável rebalancear em prazos muito curtos pois isso geraria custos elevados de corretagem, DOC-TEDs etc. Escolha um prazo conveniente entre 4, 6 ou 12 meses para rebalancear sua carteira dependendo da sua disponibilidade, interesse e valor da sua carteira.
Alem disso, de forma a evitar o excesso de transações compra-venda de ativos que, como disse, geram custo, procure seguir os 2 passos abaixo:
- Ajuste seus aportes mensais de forma a reequilibrar a carteira. Ou seja, se o percentual das suas ações no seu portfólio está abaixo do que deveria, procure direcionar seus investimentos mensais nesta classe de ativos. Isto pode reduzir ou até evitar a necessidade de vender outros ativos para comprar estes no período de rebalanceamento.
- Estabeleça uma margem de participação de cada classe de ativos ao invés de fixar os percentuais. Exemplo:
45%-55% Ações
20%-30% Títulos Públicos
10%-20% Fundos Imobiliários
5%-15% Fundos Cambiais/Ouro
Vantagens e Desvantagens
Recapitulando, as principais vantagens de montar uma carteira balanceada são:
- Melhor relação risco x retorno graças à diversificação
- Ter uma carteira sempre alinha ao seu perfil
- Comprar na baixa e vender na alta obrigatoriamente
- Baixo custo ao precisar rebalancear poucas vezes
- Simplicidade para por em prática sem precisar acompanhar diariamente e nem conhecer profundamente o mercado financeiro
Como nem tudo é perfeito, ao meu ver, a grande desvantagem deste tipo de estratégia de investimento é o fato de ser muito simplista e não considerar as constantes alterações no cenário econômico. As vezes, uma alta na taxa de juros pode tornar naquele momento o investimento em renda fixa muito mais atrativo do que previsto inicialmente em sua carteira.
Apesar disso, no longo prazo, tenho convicção de que os prós deste tipo de estratégia, superam em muito seus contras, sendo excelente especialmente para pequenos investidores pessoas físicas.
Use com moderação
Apenas relembrando algo que eu prego aqui desde a criação do Henriquecer: eu defendo uma alocação de ativos definida inicialmente por objetivos de curto, médio e longo prazos. A Carteira balanceada que eu apresento aqui se encaixaria no grupo Investimento em Patrimônio.
Para quem quiser entender melhor a alocação por objetivos, sugiro ler os artigos:
Por fim…
Bem, espero ter sido claro num tema complexo como este. Sinceramente me esforcei bastante para isso.
É desnecessário dizer que para aplicar esta estratégia de investimento, disciplina é fundamental.
No mais, para quem não leu e tem interesse, deixo com vocês os demais artigos da série que nos trouxe até aqui.
- O básico para entender o mercado de ações
- O que você precisa saber para começar a investir na bolsa agora
- Investindo em Fundo de Ações
- Conheça o ETF: a melhor estratégia para o investidor pessoa física
São 4 artigos que lhe trarão uma visão geral de como entender e como começar a investir, incluindo ações na sua carteira de forma bem simples e acessível a todo tipo de investidor.
Abraços e até a próxima!
Não notei preocupação com a idade do investidor, com seu momento de vida que exige — necessariamente — um peso maior em determinados ativos, e seu oposto.
Oi Antônio Carlos! Obrigado pelo comentário! Este é na verdade o artigo que será publicado no próximo domingo: o ciclo de vida, mostrando como e porque montar um balanceamento móvel e progressivo com aumento do % de renda fixa.