Muita gente acredita que para cada ganhador na bolsa, existe necessariamente um perdedor. Isto é ao mesmo tempo verdade e mentira. Eu particularmente não gosto de ver as coisas desta maneira. Ao meu ver é possível ganhos mútuos e infelizmente (mas isso é da vida), perdas coletivas também.
De cara, a bolsa de valores é um grande mercado onde negócios são fechados e, como em qualquer negócio, alguém está disposto a vender algo e alguém a comprar. Por definição um negócio se concretiza sempre para beneficiar as duas partes envolvidas. Quem queria comprar, compra e quem queria vender, vende. Os 2 ganham. Isto é na bolsa ou em qualquer outra interação econômica.
É preciso dizer que o conceito por trás do “sempre há um ganhador e um perdedor num negócio” vem de uma teoria econômica básica conhecida como “custo de oportunidade”. Desta forma, julga-se se um negócio foi bom ou ruim ao comparar ele com a outra opção que era viável, mas que foi abandonada. Por exemplo, se você comprou um lote de ações e obteve ganho de 10% logo em seguida, automaticamente, a pessoa que lhe vendeu estas ações “perdeu” estes 10% ao deixar de ganha-los.
Da mesma maneira, se você amargou perdas no seu investimento, esta perda passa a ser vista como um ganho para quem lhe vendeu estas ações, pois através da venda, esta pessoa conseguiu evitar suas perdas. Por este ponto de vista, olhando de forma bem básica, e é o que faz grande parte das pessoas, realmente sempre há vencedores e ganhadores.
Mas é uma visão limitada e simplista, ao meu ver. Imagine, por exemplo, que Dona Conceição, com 90 anos, viúva e sem filhos, possua uma carteira diversificada com ações que acabaram de ter uma forte alta recentemente e estão avaliadas em R$ 50 mil. O mercado espera que o valor destas ações continue a subir ainda mais no futuro. Seu sonho sempre foi fazer um cruzeiro pelo Mediterrâneo e a alta recente das suas ações a possibilitou realizar este sonho. Ela então as vende a um jovem recém-formado que juntou dinheiro fazendo trabalhos de estudante enquanto estava na faculdade.
Dona Conceição está feliz com a sua escolha. Vai realizar o seu sonho, e mesmo que haja um potencial de ganho ainda maior no futuro, convenhamos que, aos 90 anos, há um limite para o seu longo-prazo. Se daqui a 15 anos estas ações triplicarem de valor, tanto faz. É muito provável que ela não esteja mais ali para aproveitar este lucro, ou mesmo que esteja, não estaria em condições de aproveitar seu cruzeiro da mesma forma que ela poderia aproveitar agora.
Já para o recém-formado, adquirir estas ações com potencial também é um ganho. Ele ainda é jovem e poderá se beneficiar durante muito tempo deste investimento. O ganho é, portanto, mútuo.
É um exemplo ilustrativo, mas aplicável a diversos casos como alguém que queira vender seus investimentos para fazer uma festa de casamento, comprar um imóvel para residir, ter as férias de seus sonhos, cursar uma faculdade no exterior ou seja lá o que for.
Embora os exemplos sejam de situações do cotidiano de pessoas físicas, ele é totalmente real para os profissionais financeiros também. Um determinado gestor de fundos pode se ver obrigado a vender determinadas ações, mesmo que acredite ter potencial de ganhos, devido a necessidade de respeitar um regulamento específico do fundo que ele gere.
Num outro exemplo, as ações de uma empresa promissora podem parecer ter um grande futuro nos próximos anos, mas estão caindo ladeira abaixo por conta de más notícias sobre o lançamento de um produto. O day trader vende enquanto o especulador de longo prazo compra.
Lembrando que day traders são investidores de curto prazo que compram e fecham negócios no mesmo dia. A ideia é começar todo pregão sem nenhuma ação na carteira e terminar da mesma forma. Só que durante o pregão compram e vendem inúmeras vezes buscando pequenos ganhos em cada negócio.
Então, embora muita gente reduza suas análises de negócios a como apenas um lado é o certo, como disse antes, isto não é verdade. O day trader que vê suas ações caindo, as vende e está satisfeito por cair fora antes que os preços caiam ainda mais, da mesma maneira que o especulador de longo prazo compra com prazer estas ações por um preço baixo para que possa vende-las com lucro no futuro.
Tanto o vendedor quanto o comprador, ao terem horizontes de investimento diferentes, ficam felizes por terem atingido seus objetivos.
Então, é possível enxergar os negócios fechados na bolsa como ganhos mútuos, onde ambas as partes podem sair ganhando.
Agora, vai depender da personalidade do próprio investidor definir o que é ganho ou perda para si próprio. Eu, por exemplo, não me sinto mais pobre porque o meu vizinho recebeu um aumento e eu não. Sei que tem gente que pensa assim. Na bolsa é a mesma coisa. Alguém pode acabar ganhando bastante dinheiro e este alguém não ser você, o que não necessariamente significará uma perda para você.
O mais importante é você cumprir os seus objetivos, as metas que colocou para si próprio. É difícil prever o que vai acontecer com a bolsa no dia seguinte, mas conforme seu horizonte de investimento se alonga, as previsões tendem a se tornar mais úteis.
Por isto, uma primeira definição diz respeito ao seu horizonte de investimento. Como nos exemplos que dei acima, é este horizonte que vai definir o que para você será um ganho e o que será uma perda. Se seu horizonte for o longo prazo, não há muito porquê de dramatizar uma queda grande na bolsa. Ao contrário, pode ser até uma boa oportunidade para continuar comprando e juntando um patrimônio.
Já se seu horizonte for curto, é preciso estar atento a todos os movimentos na bolsa. Vender uma ação com grande perda é lamentável, mas muitas vezes necessário para evitar uma perda ainda maior. Acredite, uma perda nunca é tão grande que não possa aumentar. Pergunte a quem investiu na OGX entre 2012 e 2013. Um dia a ação estava cotada a quase R$ 20. Com a notícia sobre a baixa probabilidade de se encontrar óleo num dos principais blocos da empresa, as ações despencaram em queda livre para algo em torno de R$ 6. “Parece bom”, alguns pensaram, “todos dizem que o sucesso na bolsa vem de comprar na baixa para vender na alta. Esta é certamente a baixa”. Pois bem, alguns meses depois e a ação estava valendo… acredite… R$ 0,01. Impossível baixar de um centavo? Não mesmo, lembra que falei sobre grupamento de ações? Pois é.
Por isto, muito investidores, especialmente os de curto prazo, estabelecem um limite para perdas, que é chamado de stop loss. Por exemplo, se você comprou ações da Petrobras por R$ 10 cada, pode estabelecer um stop loss a R$ 7 e desta maneira estará limitando suas perdas a 30% do valor investido. Normalmente é possível ajustar seu stop loss no próprio home broker.
Para investidores de longo prazo, não acho que estabelecer um stop loss seja necessário e mostrarei nos próximos capítulos com mais detalhes o porquê. Adianto que quanto maior o horizonte de investimento e mais diversificada a carteira, menor o risco do investimento. E este é o horizonte que recomendo para o investidor pessoa física, especialmente profissionais de outras áreas, que desejam investir na bolsa de valores como uma atividade complementar.
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A todos, um grande abraço!!