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Modéstia a parte, sou o melhor apostador de bolões que conheço. Falo sem falsa modéstia pq sempre fui viciado em bolões – especialmente de futebol – desde o tempo da faculdade e isso só aumentou quando comecei a trabalhar.

E como trabalho com finanças, cara, companhia nunca me faltou… no meu primeiro estágio, a gente apostava absolutamente tudo o que se possa imaginar…

e o histórico sempre foi muito positivo pro meu lado. Não ganhei todos, mas ganhei mais vezes do que perdi. De cara, só isso já diz que meu saldo é bem positivo.

Mesmo nas derrotas, geralmente estive próximo de ganhar disputando até o fim.

O motivo desse artigo não é me gabar sobre uma espécie de ~talento nato~ de prever o futuro… e sim pra explicar algo muito simples. Muito simples mesmo!

E apesar de viciado desde novo em futebol, não foi isso que me ajudou… Mtas vezes, isso mais atrapalha do q ajuda.

Pensa só no Bolão da última Copa que rolou no seu trabalho. Quem foi q levou? Posso garantir que a maior parte desse tipo de bolão quem leva ou ao menos se sai muito bem geralmente são meninas q entram por zueira sem entender quase nada do que estão fazendo.

Por que? Bolão é puramente sorte?

Não. É puramente estatística!

E sem saber, a maior parte de nós é muito ruim em estatística.

O problema é que ao tentarmos prever, normalmente, sobrevalorizamos o valor das histórias e subvalorizamos os números.

A gente tende a trazer para as apostas uma complexidade desnecessária que mais acaba atrapalhando que ajudando.

A maior parte dos meus amigos nos bolões estava 100% ligada nas notícias dos times e sem notar faziam suas apostas de maneira totalmente enviesada.

Então vinham com coisas como “acho q o time tal vai perder pq fulano está machucado” ou “esse time pequeno é bom e vai surpreender fora de casa pq o outro não está esperando”.

Eu não.

Minhas apostas sempre foram: vence o favorito. Ponto final. Na dúvida, vence o que vai jogar em casa. Sempre.

E mais, os placares sempre eram 2×1 ou 1×0… 2×0 se quisesse ousar!

Estes são os placares mais recorrentes no futebol.

Até aí, não há charme nenhum. Apenas o keep it simple.

Onde mora o problema? Todo mundo sabe q nem sempre os favoritos ganham e que em quase toda rodada há surpresas… algumas até não, em outras, tem muitas!

Isso, todo mundo sabe… E por saber isso, a maior parte tenta adivinhar qual será a surpresa da rodada. Erro grave!

Como o nome já diz, a surpresa é algo improvável. É difícil prevê-la. Eu não arrisco. Tenho consciência de que dos 10 jogos da rodada, geralmente vou acertar uns 7 no máximo.

Meus adversários, ao tentarem acertar quais seriam essas “3 surpresas” acabam por ficar abaixo pq a chance de acertar as surpresas é menor do que errá-las.

E não apenas, quando acreditam que um time irá ganhar de goleada por ser muito melhor que o outro acabam errando ainda mais. 3 x 0 é goleada, mas 4 x 1 tbm é. Assim como 5 x 0, 6 x 2 …. 7 x 1 😔… Mesmo que ele acerte que o jogo será uma goleada, dificilmente acertará o placar. As chances são maiores de acertar o placar de um jogo mais apertado.

O resultado final é que nem todas as rodadas eu ganho, mas geralmente estou entre os que mais pontuam e com o passar do Campeonato, me distancio com provavelmente a estratégia mais simples de todas.

Estatisticamente, o nome disso é “regressão para a média”. Ou seja, sem dados reais que realmente impactem o resultado final, o melhor palpite é a média histórica.

O problema é que a nossa mente acredita mais em histórias com relações causa-efeitos do que na estatística pura. A gente tenta sempre buscar justificativas a partir de uma causa que é real, mas que não necessariamente terá uma relação tão forte assim com o resultado final.

Os resultados precisam ser justificados por histórias. Um comentarista esportivo estará no dia seguinte dizendo que o time favorito perdeu porque o Juninho da Rocha não jogou. Mas se o time ganhar, o mesmo fato pode ser usado a favor.

Você nunca vai ver um comentarista falando: o favorito perdeu porque estatisticamente, é provado que em 30% dos jogos os favoritos perdem seja qual for a razão, se é que há sempre.

No Mercado Financeiro é a mesma coisa. Se um ministro fizer um discurso importante, esse fato vai usado para justificar tanto a queda quanto a alta do dólar no dia, quer a notícia de fato tenha impactado ou não o câmbio na verdade.

Mas nós compramos essas notícias e mais, a tendência é darmos um peso a elas maior do que à estatística em si.

Vitoria no Bolao.jpg
1º lugar: Henrique Assumpção, e o prêmio

E mesmo quando entra a parte estatística, o negócio ainda piora. Quer ver?

Jogos de Azar

Uma vez estava jogando na Mega Sena sem muita paciência para escolher os números porque sei que não há muita chance de ganhar.

– A verdade é que as vezes até brinco pela social, mas não gosto do conceito desse tipo de aposta. Eu gosto de apostas que na verdade eu tenho chances reais de ganhar. Na Mega Sena esse não é o caso. Qualquer um que entenda o mínimo de probabilidade, sabe que suas chances são 0,0%, neste caso. Existe a possibilidade, mas não há probabilidade alguma. –

Ainda assim, as pessoas jogam.

Enfim, nesse dia, meus números foram 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e o meu amigo que administrava o bolão me disse “Tu só pode estar de sacanagem, né? É impossível dar esses números”. Eu respondi: “Eu sei. Mas tbm é impossível dar os seus. Quer apostar?”

Impossível não é, mas a probabilidade arredondada de acertar os números da Mega Sena, como disse, é desprezível. E as chances de sair os 6 números do meu palpite são tão grandes quanto a de qualquer outra combinação. Qualquer outra!

E aí é que entra a pegadinha que a nossa mente nos prega…

Como os números geralmente não caem em sequência, ao optar por números espaçados o cara sente que está mais próximo de ganhar, mesmo que não esteja.

Ele tem a miragem de que a combinação que escolheu têm mais chances de sair porque se parece mais com o que normalmente sai: números aleatórios espaçados, ou seja, não sequenciais.

Só que existem milhões de combinações desse tipo.

É esse o erro que cometem também os amigos de bolão de futebol ao incluir “surpresas” em seus palpites. Assim, seus palpites dão a falsa ilusão de estarem mais coerentes por se parecerem mais com resultados que acontecem. 

A diferença é que, na Mega Sena, ele parece estar melhor que eu, mas na verdade, está igual. No bolão, apesar de também parecer estar melhor, na verdade ele está pior. 

Regressão à média. Essa é a melhor maneira de estar mais próximo ao resultado final.

Se me fizessem o seguinte teste:

Tenho um individuo e quero que você, sem maiores informações, adivinhe apenas sua nacionalidade.

1) Se tivesse que chutar se ele é chinês ou não chinês. O que escolheria?

Minha resposta: Não chinês.

2) E sua nacionalidade.

Minha resposta: chinês.

Apesar das 2 respostas parecerem controversas, na verdade não são.

A melhor resposta é sempre a opção mais provável e pelo que sei, existe uma chance pelo menos 3 vezes maior do indivíduo não ser chinês do que a de ele ser (considerando que a população chinesa corresponda a aprox. 1/4 da população global).

Por outro lado, eu sei que a China é o país mais populoso do planeta e que as chances são maiores de ser chinês que qualquer outra nacionalidade se consideradas individualmente.

De quebra ainda saio com meu ponto garantido, já que uma das 2 perguntas com certeza irei acertar. 

Dependendo no número de participantes do teste (e, claro, de sorte), talvez eu até não ganhe porque alguém com sorte pode acertar as 2 respostas, coisa que eu não posso, assim como não ganhava toda rodada do bolão.

Mas se esse tipo de desafio continuar, quem teve sorte nesta rodada dificilmente continuará tendo sempre nas demais e quem opta pela estatística ao invés de palpites, provavelmente, acaberá o ultrapassando em algum ponto.

Como isso se traduz para o Mercado Financeiro?

bitcoins and u s dollar bills

Assim como um apostador num bolão acha que pode adivinhar quais serão as zebras da rodada, um investidor ativo acredita que conseguirá descobrir qual será o próximo Google da vida.

Na época em que a Google surgiu, milhares de outras start-ups apareciam no mundo, em especial nos EUA, e pareciam ser promissoras. O mercado financeiro comprou a ideia em no final dos anos 90 estourou o que ficou conhecido como “a bolha das ponto com”. A maior parte daquelas start-ups não dava e nem nunca deu lucro. A maioria, faliu.

Dentre elas, o Google resistiu e cresceu até se tornar uma das maiores empresas do planeta.

As chances de você saber que o Google se tornaria o que se tornou hoje são mínimas dentro de um palheiro de milhares de outras start-ups. Seria possível para o investidor individual identificar a campeã dentro daquele cenário?

Possível sim, mas completamente improvável. O resultado mais provável neste tipo de aposta é que você teria perdido muito dinheiro apostando em outras start-ups que afundariam no meio do caminho.

Só que você não acredita nisso. Você acredita que é capaz de escolher a empresa correta. (e os palpites corretos no bolão, na Mega Sena, etc.)

Os pesquisadores Van Yperen e Buunk, em 1991, deram a isso o nome de Illusory Superiority (ou ilusão de superioridade). Uma desfunção cognitiva que nos faz superestimar nossas capacidades.

10 anos antes, uma pesquisa realizada por Svenson mostrou que 93% dos motoristas americanos, acreditam dirigir melhor que média. Não é preciso conhecer muito estatística para saber que isso é impossível.

O mesmo teste foi realizado diversas outras vezes e os resultados foram muito parecidos: a maioria das pessoas acredita ter o QI acima da média, a maioria das crianças acredita ser mais apta que a média e a maioria dos trabalhadores acredita ser mais produtiva que a média…

Se tivéssemos uma noção mais próxima da realidade, o resultado destes testes seria algo próximo a 50%. Qualquer pequena variação poderia ser justificável, mas não é o caso. A gente erra e erra por muito.

Number one rule of Wall Street. Nobody… and I don’t care if you’re Warren Buffet or if you’re Jimmy Buffet. Nobody knows if a stock is gonna go up, down, sideways or in fucking circles. Least of all, stockbrokers, right? (Mark Hanna)

A regra número um em Wall Street é que ninguém, e não importa se você é o Warren Buffet ou o Jimmy Buffet. Ninguém sabe se uma ação vai subir, cair ou andar de lado ou em círculos… Muito menos os corretores de ações, ok? (Mark Hanna)

Um teste da Cass Business School mostrou que entre 1968 e 2011 macacos escolheram ações melhores que os profissionais do mercado financeiro. 

Um outro estudo mostrou que 96% dos fundos mútuos falharam em bater o mercado num período de 15 anos. O resultado? Você paga caro para ter um resultado horrível.

Custa caro tentar bater o mercado. A estratégia de stock picking (escolher a própria ação) requer tempo, energia e, claro, dinheiro.

Por alguns anos trabalhei como Especialista de Relações com Investidores. Nossa função é informar e esclarecer qualquer dúvida que o mercado possa ter sobre a empresa. Investidores de todo o mundo nos ligam, leem nossos relatórios, conversam com a diretoria para entender a estratégia. Alguns vêm in loco para visitar as lojas, tudo para ter uma compreensão de como funciona o business e poder avaliar se a ação é válida para se investir ou não.

Só que tudo isso custa caro. Esse caras que se deslocam, ficam em hotéis luxuosos, vão a bons restaurantes, se locomovem entre uma reunião e outra em táxis e viajam de Executiva. E o salário deles é enorme. Só de bônus, então…

Quem paga por isso? Os investidores dos fundos ativos. Tudo isso para ter 50% de chance de bater o mercado.

Não, a resposta correta é: tudo isso para ter uma boa história para contar.

Illusory Superiority!

Imagina que meus adversários do bolão saíssem na hora do trabalho para visitar os treinos dos times que iriam jogar no final de semana, que entrevistassem os jogadores para poder dar seus palpites.

Tudo isso a fim de conseguir criar histórias. Se acertarem os palpites, os ganhos serão devido ao mérito deles. Mas se errarem, terão uma boa história para justificar o erro, foi o clima, alguém que se machucou, um imprevisto…

Se forem honestos o suficiente dirão que apenas faltou sorte. 

Se colocarmos 1024 gorilas num ginásio e dermos a cada um deles uma moeda para jogar pro ar 10 vezes, um deles acabará tirando 10 caras. Quando isso acontece, você chama isso de sorte. No mercado financeiro, você chama o cara de gênio.

Bater o mercado não é difícil, o difícil é bater o mercado consistentemente ano após ano. Isso é difícil. Caras como Warren Buffet e Ray Dalio fizeram, mas quais são as chances de você encontrar um deles no seu caminho?

O que eu quero dizer é que a melhor estratégia para um investidor individual é investir no mercado como um todo, através de Fundos Passivos.

Replicar a média do mercado… ou seja, regressão à média.

Desta maneira, você diversifica o seu portfólio e reduz os seus custos. Esse tipo de estratégia é barata porque evita os custos de ter uma equipe investigando relatórios, viajando.

No duro, bastaria uma macro para comprar e vender as ações que compõem um índice. E pronto!

A maior parte dos fundos que “batem” o mercado, na verdade não o batem porque quando você desconta os custos que incorreram durante o ano, eles performam pior…

Na verdade, apenas 30% dos fundos realmente batem o mercado e não são sempre os mesmos….

No meu livro “Aprenda a investir na Bolsa de Valores” mostro como investir de maneira simples e barata. Não tem histórias complexas e interessantes. É lógica e eficaz. É 2×1 pro time da casa… zero glamour… e em nem toda rodada você irá ganhar, mas esteja pronto para a vitória nos pontos corridos.

A todos um grande abraço!

Riko Assumpção

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