É incontestável que os direitos trabalhistas estendidos aos empregados domésticos é um conquista e um avanço para o país. Como efeito colateral, por outro lado, houve um encarecimento da mão de obra e muitas das famílias que dependiam desse recurso, agora não poderão arcar com horas extras, FGTS etc.

O que muitos tem feito é transformar a empregada doméstica em diarista até 2 vezes na semana. Isso resolve parte do problema, mas não completamente. Para lavar e passar roupa e arrumar a casa, 2 dias estão ok. Mas o que fazer se você ainda tem filhos pequenos?

Conversando sobre esse assunto, fiquei assustado ao descobrir que uma boa creche – que poderia substituir a babá – pode custar em torno de R$2 mil ao mês. Uma escola de classe média custa mais de R$ 1 mil. E os pais, em geral, ainda arcam com o transporte à escola, a compra de material escolar  e lanche na escola. Isso sem pensar em matricular a criança num cursinho de inglês ou numa escolinha de futebol. De onde tirar tanto dinheiro para sustentar uma criança? E se você tiver 2 ou 3 filhos?

Não a toa, dentre meu grupo de amigos, a maior parte na faixa de 30 anos, quase nenhum teve filho. Alguns dizem que preferem até não ter – “Sacrificar toda a minha vida pra quando ele crescer ainda cobra mais e reclamar de mim?” – outros querem ter, mas sabem que não tem condições ainda de dar o que sempre sonharam a seus filhos – mas será que um dia conseguirão?

Os poucos que tiveram filhos atribuem ao nascimento deles muitas dificuldades em suas vidas. É difícil ter um filho hoje no Brasil. Algumas empresas preferem contratar quem não tem filho e quando empregam, os pais trabalham tanto que sobra pouco tempo para estar com ele. Para pagar a escola da criança, os pais abrem mão de fazer muitas coisas para si próprios.

Mas o filho deveria ser uma coisa boa na vida das famílias, um motivo de celebração. E é claro que é. Qual pai não ama seu filho ou não sorri com cada besteirinha que ele faz? O problema é que cada vez mais, o filho traz junto um fardo… e cada vez menos gente está tendo filho. Muitos simplesmente decidem não ter.

Nesta planilha (clique aqui para baixar – clicar na seta para baixo no canto superior esquerdo do link após estar logado no google, sign in) você pode simular quanto custa ter um filho a preços de hoje. Lá você pode orçar gastos gerais como o valor adicional que custa um apartamento de 2 quartos vs. um quarto-sala. É óbvio que falta bastante coisa, mas só nesse exercício você pode ter uma noção geral… e o valor pode facilmente superar um milhão de reais ou até chegar dois milhões…

Em parte, os custos altos começam com os valores que as instituições de ensino cobram, passam pela má qualidade dos serviços públicos e chegam a uma questão mais delicada: os excessos que os pais brasileiros proporcionam a seus filhos.

Todo pai quer oferecer o que há de melhor ao seu filho, é claro! Mas até que ponto isso é saudável?

Em dezembro passado, a Folha publicou uma reportagem muito interessante sobre o modelo francês de família. Fala sobre 2 livros diferentes que tentam responder por que crianças francesas não fazem pirraça e por que comem de tudo.

Crianças que saboreiam pratos repletos de legumes, dormem no mesmo horário todos os dias sem reclamar e não matam os pais de vergonha com ataques de birra em público podem parecer um sonho para muitos pais. Não na França, onde essa é a regra, e não a exceção”

Segundo o livro, a base das orientações é impor limites: não socorrer a criança imediatamente sempre que ela chamar e ensiná-la a esperar a vez – não interromper os pais quando estão conversando, por exemplo. Isso ajuda os pequenos a desenvolver o autocontrole e lidar com a frustração.

O casal não se torna ‘papai’ e ‘mamãe’. A criança é importante, claro, mas ela deve se adaptar à vida dos pais, e não o contrário. Em muitos países, incluindo o Brasil e os EUA, nada é mais importante que o filho, e por isso ele ganha tanto poder. Com isso, os pais praticamente abdicam das suas próprias vidas pessoais, achando que estão fazendo o melhor. Mas muitos casamentos vão para o buraco e isso não é bom pra ninguém, nem para a criança.

No Brasil, a renúncia à vida amorosa está ligada ao sacrifício que as mulheres precisam fazer para provar que são boas mães. “A raiz da tirania dos filhos está numa idealização da maternidade de que é preciso amar o filho acima de nós mesmos. Se ele chora, você precisa sair correndo ou será considerada relaxada e egoísta. Não é permitido ter raiva ou exigir muito da criança.” Há cerca de 30 anos os pais diziam “não” sem problemas. Hoje, sentem-se monstros quando fazem isso.

Outro artigo mostra porque crianças francesas não sofrem de DDA enquanto 10% das crianças americanas são diagnosticadas com este problema. O artigo diz que a raiz da doença é a falta de disciplina das crianças americanas. Acordam a hora que querem, comem e assistem o que querem. E claro, acreditam que atender o que exigem é a regra. Quando não conseguem o que querem, na hora que querem, se frustram. Esse excesso de anseios causa ansiedade.

No Brasil, neste ponto, a criação se assemelha bastante ao modelo americano. Crianças não respeitam babás ou professoras na creche e na escola – muitas vezes estimulados pelos próprios pais. Não cumprimentam adultos e comem comida especial. Crianças não esperam sua vez para falar e exigem atenção imediatamente quando querem. Além disso, dependem excessivamente dos pais.

Na França, a carga horária de trabalho é de 35 horas semanais e, além dos muitos feriados, os trabalhadores têm direito a férias de 30 dias úteis em geral. Horas-extras são uma exceção. Ao meu ver, isso explica boa parte da questão, já que nos EUA e no Brasil, os pais muitas vezes mal tem tempo para ver o próprio filho. E, porque sentem culpa, tentam compensar mimando e fazendo todas as vontades deles. O que não é bom nem para os pais e nem para eles.

Dizer não as vezes é difícil, mas criar um bom cidadão para a vida deve ser prioridade ao bom pai. Neste aspecto, temos muito o que aprender com os franceses.

Trechos extraídos das reportagens:

Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/12/1379902-familias-francesas-sao-adotadas-como-modelo-em-livros-sobre-como-educar-filhos.shtml

Blog Equilibrando: http://equilibrando.me/2013/05/16/por-que-as-criancas-francesas-nao-tem-deficit-de-atencao/

Revista Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/por-que-os-pais-e-maes-franceses-sao-melhores-que-os-americanos

Revista Época: http://revistaepoca.globo.com/vida/noticia/2012/02/o-segredo-das-maes-francesas.html